Em entrevista exclusiva à Viagens&Resorts, Pedro Machado, Presidente da Entidade Regional de Turismo do Centro de Portugal, falou sobre os desafios que se colocam à região devido à pandemia causada pelo Covid-19.

Era a região nacional que mais crescia ao nível dos resultados do turismo.
Com a pandemia esses resultados mudaram drasticamente devido aos cancelamentos e ao encerramento de espaços turísticos e de restauração. Mas como está o Turismo do Centro a preparar-se para a retoma?
Pedro Machado, presidente Turismo do Centro de Portugal, revela medidas para reerguer a região no pós pandemia.

Por Sandra Pinto, Abr 8, 2020

Qual o impacto da pandemia no Turismo do Centro?
Os dados que temos, à data, permitem aferir que todos os estabelecimentos hoteleiros do Centro de Portugal reportam cancelamentos, realidade que já levou ao encerramento de dezenas de empreendimentos turísticos.

O facto do vosso mercado ser, predominantemente, interno acaba por ser um ponto favorável?
Neste momento, os efeitos negativos da pandemia são generalizados por todos os sectores da economia, incluindo, o turismo. O mesmo acontece no Centro de Portugal. Pedimos às pessoas que fiquem em casa, sensibilizando-as de que haverá tempo para visitar o Centro de Portugal. E esta é uma mensagem generalizada para todos os mercados, em particular, o interno.

Há diferentes realidades dentro da própria região? Pode dar um exemplo?
No início da epidemia, verificou-se um colapso total dos mercados italianos e coreano em Fátima. De acordo com a consulta que fizemos aos empreendimentos turísticos da região, os mercados que geram perdas são vários, de acordo com o historial de cada um deles, mas havia um claro destaque Portugal, Espanha e Itália, alguns dos nossos principais mercados. Nesta altura, os cancelamentos são, como seria de se esperar, generalizados a toda a região.

De que forma pode a quarentena em hotéis ajudar à sobrevivência do sector?
Já são vários os empreendimentos turísticos no Centro de Portugal que se disponibilizaram para aderir aos programas de apoio a doentes COVID-19 e a Lares de idosos, em articulação com a Saúde e a Segurança Social. Este é, acima de tudo, um sinal de enorme solidariedade para com a sociedade, mas também uma mais-valia no sentido de cobrir os custos de funcionamento dos hotéis. É uma contrapartida financeira do Estado muito importante e que pode ajudar à sobrevivência do sector.

Lançaram recentemente uma campanha de esperança. Como surgiu a ideia e qual o seu principal objectivo?
A Turismo Centro de Portugal liderou a iniciativa nacional de lançar a campanha “Haverá Tempo!”, no dia 19 de Março, na qual aponta caminhos para um futuro próximo, pós-pandemia COVID-19. A campanha apela aos portugueses para que fiquem em casa, dando nota de que “haverá tempo” para conhecer ou regressar ao Centro de Portugal, que estará à sua espera quando a doença for debelada. A campanha tem como plataformas principais um vídeo, spots de rádio e imagens nas redes sociais, acompanhados da hashtag #haveratempo, entre outras.

O texto que acompanha o vídeo sintetiza uma mensagem de esperança: “São tempos como os que vivemos que nos obrigam a parar, para depois recomeçar. Tempos que nos tiram a liberdade, mas que também nos fazem acreditar. Acreditar que podemos, que venceremos. Haverá tempo para voltar a dar asas aos nossos sonhos, de abraçar quem amamos, de sorrir sem sombras. Haverá tempo para recomeçar, para viajar, para correr, para voar. Voltar a sentir e vibrar, ao sabor do vento, do sol, da chuva. Haverá tempo para navegar e para voltarmos a estar juntos. Até lá, ficaremos em casa. E como um todo, um só, venceremos”.

Esta campanha reflecte a importância de se passarem mensagens positivas numa situação de emergência como a que o mundo atravessa, e sensibilizar para a necessidade premente de que as pessoas fiquem em casa, em isolamento social, para evitar a propagação do COVID-19.

Serviu também, como um estímulo à criação de esperança, tão necessária nos dias que vivemos, em particular, para as pessoas e as empresas que enfrentam desafios extremamente duros.

Quais os maiores desafios que se colocam ao Turismo do Centro no pós-pandemia?
As empresas da actividade turística, não apenas as regionais, terão de adaptar-se às circunstâncias que decorrerem da pandemia. Arriscamos dizer que nada voltará a ser o mesmo. Mas as crises obrigam-nos, por outro lado, a ser criativos na procura de soluções. Este é um dos sectores mais afectados pela crise económica mundial, que chegou em força com a pandemia. Mas também temos a esperança de que será um dos primeiros a sair dela.

É vital que as empresas pensem em estratégias para o pós-COVID-19, em que estejam cada vez mais presentes nas plataformas digitais – de forma profissional e com qualidade. O que estamos a viver hoje poderá repetir-se amanhã e o que os dias presentes nos dizem é que a digitalização da economia é um caminho sem retorno. As pessoas estão em casa, mais atentas do que nunca aos meios digitais e esta é uma oportunidade para conquistar novos clientes, que estão desejosos de viajar assim que o pesadelo termine.

De que forma se está o Turismo do Centro a preparar para a retoma?
Estamos já a preparar o nosso plano de comunicação e promoção, atendendo às diferentes fases que se avizinham e aos novos desafios do comportamento do consumidor, no período pós-pandemia. A nossa mensagem terá de estar, obrigatoriamente, alinhada com o state of mind das pessoas e das empresas.

Podemos retirar alguns ensinamentos desta situação?
Será importante que a sociedade adopte medidas para a preparação e resposta a futuras pandemias, de modo a que, as pessoas em geral, e os governos em particular, possam melhorar a sua capacidade de fazer face a crises como esta. Esta crise global precisa de uma resposta global. Nenhum país tem capacidade para, sozinho, aguentar este impacto.

Juntos seremos mais fortes. Será agora que todos os players de todos os sectores que compõem o turismo se vão unir?
Sem dúvida que deverá haver um sentimento enorme de unidade e, sobretudo, de solidariedade. Se houver esta sensibilidade por parte dos diferentes players, procurando que a recuperação seja feita da forma mais generalizada possível; se se considerar que as medidas têm de atender a discriminação positiva dentro do sector, em termos de medidas concretas de apoio; se todos compreenderem que só juntos podemos voltar a posicionar o destino; se todos tiverem a clareza de compreender que todos são essenciais nesta cadeia de valor que é o sector turístico, poderemos ter mais certezas quanto à recuperação generalizada do turismo em Portugal. Uma recuperação que só beneficia o país e os portugueses, pelos impactos que tem na economia e na geração de trabalho.

Para reerguer o sector será importante a criação urgente do Ministério do Turismo?
Sempre fui defensor de um Ministério do Turismo, mas não julgo que esta seja uma prioridade neste momento. A questão será, essencialmente, a que de todos os players estejam unidos e solidários para responder, prontamente, às necessidades de sobrevivências das empresas e instituições do sector. E que, o Ministério da Economia, a Secretaria de Estado do Turismo e o Turismo de Portugal, consigam definir políticas concretas e objectivas para este efeito.

Na sua opinião, como vai ser o turismo no pós-pandemia Covida 19?
Será, obrigatoriamente, diferente, como em tudo na sociedade. Nada voltará a ser como antes. Primeiro, porque o turismo é feito de pessoas para as pessoas, e estas são as principais afectadas com a pandemia: em termos económicos (e os efeitos estão a ser avassaladores), mas também em termos psicológicos e da predisposição para viajar. O comportamento dos turistas será, necessariamente, diferente, a curto e a médio prazo. As pessoas procurarão destinos mais próximos, mais seguros, e que reúnam condições de hospitalidade que antes não eram prioridade. E as empresas do sector terão de procurar adaptar-se e posicionar-se perante esta realidade. Haverá uma maior preocupação com a antecipação deste tipo de questões, para que, na eventualidade de situações idênticas, possam responder com maior eficácia e rapidez.

É importante deixar a mensagem de que Portugal não está nem pode parar?
A ideia de que “ficará tudo bem” não é uma verdade para todos os portugueses. Há muitas empresas que não sobreviverão, há muitas pessoas que perderão os seus empregos. Mas é, exactamente, por isso que Portugal não pode parar. Há toda uma cadeia de valor que continua a trabalhar nos mais diversos sectores, nomeadamente, da saúde e da economia, para que possamos continuar a ser e a funcionar como uma sociedade. Há milhares de portugueses a trabalhar a partir de casa, adaptando-se estoicamente a uma nova realidade. Muitos deles são do sector turístico, na preparação do “pós-pandemia”, para que a resposta seja rápida e traga resultados a curto-prazo. 

Precisamos, como nunca, de um sentimento de unidade nacional e uma enorme solidariedade mundial. Para esta realidade, que actualmente vivemos, de isolamento social e cada vez mais digital, o turismo poderá dar um significativo contributo: de voltar a aproximar as pessoas, de se voltarem a reencontrar e a abraçar, e de se voltarem a desvanecer as fronteiras físicas, tão necessárias neste momento.