Visitar o Centro de Portugal é viajar pelo tempo. Descobrir memórias de tradições únicas em cidades moldadas por uma arquitetura contemporânea e industrial, embelezadas por Arte Nova e por Arte Urbana. E muito mais!
Conhecer esta região é reconhecer o seu povo, a arte e a cultura, as suas cores, as suas tradições, os seus espaços. Venha percorrer as ruas das mais históricas cidades do nosso país e redescubra-as através do olhar criativo de alguns dos maiores mestres nacionais.
Comece já a planear momentos inesquecíveis por locais que guardam memórias de vidas antigas e episódios passados.
Entre em “Visitas Virtuais 360º” e parta depois à descoberta!
Covilhã, importante centro da Arte Urbana e não só!
Percorrer as ruas da cidade da Covilhã, apreciando as obras de arte urbana levadas a cabo no âmbito do Festival Wool e que dão vida e cor à cidade, é uma aventura a não perder.
Passeie pela Covilhã e confirme que esta é uma cidade onde encontra o talento de vários artistas de street art espelhados em murais, em ilustrações, em fotografia, em grafittis, etc. O intuito destas obras é claro: dinamizar zonas mais antigas e degradadas e promover espaços esquecidos. É por isso que a Covilhã é considerada um verdadeiro “museu” ao ar livre. Graças ao festival WOOL – festival de Arte Urbana da Covilhã, iniciado em 2001, a cidade tornou-se no verdadeiro centro da Arte Urbana, e conta com obras de artistas vários como Add Fuel, Bordalo II, Bosoletti, BTOY e Draw.
Se não foi a tempo de assistir a este evento mas aprecia arte urbana, a Covilhã é uma paragem obrigatória e que merece várias fotografias às obras expostas nas ruas.
O Museu da Covilhã, distinguido em maio como Melhor Museu do Ano de 2022, pela Associação Portuguesa de Museologia (APOM), o Museu de Arte Sacra, com um espólio de mais de 600 peças de arte sacra, o Museu de Lanifícios, sediado na Universidade da Beira Interior, com uma importante coleção de máquinas, equipamentos, utensílios, documentos, matérias-primas e produtos têxteis, apresentando a evolução tecnológica dos lanifícios, bem como o Museu do Queijo, em Peraboa, são de visita obrigatória.
Obrigatória é também a visita ao New Hand Lab, um espaço de promoção e divulgação dos recursos endógenos mais criativos. Numa viagem histórica e cultural em família, o Centro de Interpretação da Argemela e as Minas da Recheira reservam agradáveis surpresas.
E, já que estamos na Covilhã, é o momento perfeito para se deslocar até ao Fundão e conhecer a arte urbana por lá presente e as obras nascidas através do projeto “Fund’Arte – Aldeias Criativas”. É nesta cidade e, mais concretamente, nas aldeias desta cidade, que vai perceber o papel da arte.
Continuando por estes lados, a arte urbana leva-o até à cidade mais alta de Portugal, Guarda, que também tem espalhada pela cidade projetos que valem a pena serem analisados e apreciados.
Forte, farta, fria, fiel, formosa e a mais alta do país
Também conhecida por “Escudo da Estrela”, a Guarda é sinónimo de história e património seculares, de ar puro e sadio e de sabores e aromas marcantes, fruto dos vales férteis.
Reserve, por isso, algum tempo para descobrir os ex-líbris desta cidade com mais de 800 anos. Da Torre de Menagem, símbolo máximo de toda a estrutura defensiva, pode usufruir-se de uma vista sem par sobre a paisagem circundante.
A Sé, verdadeiro ícone da cidade construída entre os séculos XIV e XVI, tem qualidades construtivas e estéticas que a impõem como um dos monumentos maiores de toda a história da arquitetura portuguesa.
Nas ruas do centro histórico observe as marcas da convivência ancestral entre cristãos e judeus, numa das mais antigas e importantes judiarias da Beira Interior. Cidade fortaleza e bastião da fronteira, a Guarda é a cidade mais alta de Portugal, edificada numa cota média um pouco acima dos mil metros de altitude.
Depois do merecido tempo à descoberta da cidade da Guarda, a estrada N18 leva-nos para sul, ao longo do sopé oriental da Serra da Estrela. Corridos poucos minutos e já em Belmonte, faça um desvio à esquerda pela estrada em direção a Colmeal da Torre. Não tardará a avistar, à direita, uma imponente e enigmática estrutura em forma de torre: Centum Cellas. Pare o carro nas imediações e aventure-se pelo local para admirar de perto esta construção romana, cujas funções primordiais estão ainda envoltas em incerteza.
De regresso ao carro, siga a estrada até à colina que se eleva a sul e suba até ao centro histórico da Vila de Belmonte, com vista para a Serra da Estrela, o rio Zêzere e a Cova da Beira, onde será recebido pelo castelo do século XV. Mesmo em frente ao Castelo de Belmonte, do outro lado da praça, a Igreja de Santiago assinala a passagem de um dos caminhos portugueses até Compostela, também conhecida por albergar o Panteão dos Cabrais, família cuja história está intimamente ligada a Belmonte.
Daqui pode seguir a Rota dos Museus, que o levará a muitos locais imperdíveis. Um deles evoca a memória da comunidade sefardita que se confunde com a história de Belmonte e a cultura da região: o Museu Judaico e a própria Sinagoga, também visitável.
O maior museu de azulejo ao ar livre do país encontra-se aqui
Abençoado pela natureza abastada em cenários talhados pela ria, pelo mar e pela floresta, o concelho mais norte da Ria de Aveiro, é também bafejado pelo brilho e originalidade dos seus azulejos que embelezam as inúmeras fachadas do centro da cidade.
Estamos em Ovar, onde ruas inteiras se transformam em salas de museu ao ar livre, com mais de 800 painéis de azulejos incrivelmente bem preservados que cobrem as fachadas dos seus edifícios. As suas origens vão desde meados de 1800, altura em que os azulejos, normalmente azuis ou amarelos, eram pintados à mão-livre, até ao século XX. Os conjuntos azulejares de Ovar continham padrões produzidos pelas principais fábricas de cerâmica da altura, aos quais se acrescentavam diversos ornamentos cerâmicos de remate como figuras escultórias, pinhas, jarrões, urnas ou balaustradas.
É no centro da cidade que podemos encontrar os exemplos mais emblemáticos da azulejaria de fachada de Ovar, mas também nas habitações mais simples da periferia é possível observar azulejos de padrão e os respetivos frisos.
No património religioso, destacam-se as Igrejas de Válega e Cortegaça, de visita obrigatória. Dê um saltinho à Igreja Matriz de Válega. Originalmente de estilo barroco, é conhecida pela extravagância da sua decoração: está coberta de azulejos coloridos produzidos pela Fábrica Aleluia, no seu exterior e interior. Se passar por lá ao fim de uma tarde ensolarada, admire a fachada virada a poente. Vai estar a brilhar com o pôr do sol. Uma imagem única na sua memória!
Já no interior da Igreja Matriz de Cortegaça, construída entre 1910 e 1918, é possível observar dois admiráveis painéis de azulejos, na Capela-mor e no Batistério onde figura o Batismo de Cristo. No exterior, é linda a fachada revestida com azulejos azuis e brancos de motivos decorativos e arquitetónicos que prendem o olhar dos visitantes.
Orgulhosa e consciente da importância e do interesse histórico e artístico dos seus azulejos, a cidade de Ovar criou por isso, um Atelier de Conservação e Restauro de Azulejo. Este espaço dedica-se exclusivamente à conservação dos painéis espalhados pela cidade, em particular os localizados entre a Praça da República, o Largo Mouzinho de Albuquerque e o Largo Família Soares Pinto.
Fica ainda o convite para uma visita a Ovar, esta “Cidade-Museu-Vivo do Azulejo” durante o mês de maio. Participe em diversas iniciativas que o “Maio do Azulejo” oferece. O evento, dedicado a este Património, inclui atividades como visitas guiadas, exposições, concertos e oficinas. Ganham relevo as experiências proporcionadas aos visitantes, as atividades ao ar livre, a apresentação de novas maneira de se fazer a reinvenção e exploração do azulejo e a valorização dos espaços da cidade recorrendo-se às artes performativas.
Artistas urbanos, dos melhores do mundo, fazem das deles
O “museu a céu aberto” de Estarreja é um bom motivo para explorar avenidas e ruas, paredes, muros ou fachadas de edifícios, ou até locais mais inusitados, como caixas de correio. A Arte Urbana sentida em qualquer ponto de concelho acolhe obras de alguns dos melhores artistas urbanos do mundo como Add Fuel (Portugal), Vhils (Portugal), Marina Capdevila (Espanha), Millo (Itália), Bordalo II (Portugal), Regg Salgado (Portugal), TheCaver (Portugal), Fintan Maggie (Austrália) e Tiago Galo (Portugal).
Nesta espécie de explosão de arte urbana na cidade, dá-se voz a quem vive e visita Estarreja. Está por lá à sexta-feira ou no último sábado de cada mês? Marque já uma visita guiada gratuita!
Irá ter a oportunidade de conhecer muitas obras como a da D. Florinda, peça criada por VHILS, no âmbito do Festival ESTAU | Estarreja Arte urbana.
O retrato é de D. Florinda. Junto com o seu marido, o Senhor Rola, formam o último casal a empregar métodos de agricultura tradicional no cultivo do arroz no Esteiro de Salreu, uma paisagem na Ria de Aveiro hoje protegida como Reserva Ecológica Nacional e Reserva Agrícola Nacional.
Esta peça fala-nos da memória e da identidade cultural dos lugares e das pessoas que os habitam. Visa também refletir e alertar para o ténue equilíbrio existente entre os vários elementos que dão vida a ecossistemas complexos deste tipo, onde a extinção de parte ativa desta interação entre património cultural e património natural põe em risco a sua imensa riqueza e sensível biodiversidade.
Mas há muito mais para visitar em Estarreja. Se é fã de arquitetura, saiba que aqui, a Arte Urbana e a Arte Nova andam de mãos dadas. Desta corrente, merece especial destaque a Casa Museu Egas Moniz. Apresenta obras de D. Carlos de Bragança, Silva Porto, Malhoa, Carlos Reis, Henrique Medina, Falcão Trigoso, Júlio Pomar, Abel Salazar entre muitos outros, bem como coleções de mobiliário, cerâmica, ourivesaria, vidro, têxteis, gravura, escultura e uma notável biblioteca pessoal.
Leia à porta deste espaço: “As grandes escolas das Artes plásticas são os Museus. Quisera um em cada cidade, em cada vila e em cada aldeia para que o povo se elevasse na comunhão espiritual do Belo”.
Há lá alguém capaz de contrariar esta notável e incontornável figura que, em 1949, recebeu o galardão na área da Medicina? Ninguém!
Um Museu ao Ar Livre
A sua escapadinha não fica por aqui. Estamos na Cidade-Museu de Aveiro, onde a arte se tornou um modo de vida. Aqui, o movimento Arte Nova instalou-se no início do século XX e transformou as fachadas dos mais diversos edifícios da cidade. Atualmente, uma rota preparada especialmente para si leva-o pelo centro de Aveiro à descoberta de edifícios com fachadas desdobradas em arcadas de pedra lavada e adornadas com painéis de azulejo policromáticos, colunas imponentes e pormenores em ferro forjado.
Na Rua Barbosa Magalhães, é esse ferro forjado com formas encantadas de flores e arabescos que sobressaem na entrada do Museu de Arte Nova, e o convidam a entrar. Nesta visita específica, a arte ganha vida. E mais do que repor o ambiente ornamental de uma habitação Arte Nova, este núcleo museológico aborda a Arte Nova como um válido argumento didático. Visite-o e confirme por si próprio.
E visite mais, muito mais… Siga o nosso roteiro de um dia em Aveiro. E fique vários dias…
Continuamos até à cidade outrora conhecida como a cidade das bicicletas. Hoje, Águeda tem uma das ruas mais bonitas do mundo. Verdade! A “rua dos guarda-chuvas coloridos”, enfeitada anualmente durante o AgitÁgueda, e que consta no ranking de 19 ruas mais bonitas, para a Architectural Digest.
É uma cidade colorida que pinta a vida daqueles que têm a sorte de experienciar o que ela tem para oferecer!
Também ela colorida, com uma paisagem absolutamente encantadora às riscas encarnadas, azuis, amarelas e verdes, é a marginal da Praia da Costa Nova, no município de Ílhavo, com a tão bem conhecida imagem dos Palheiros da Costa Nova.
As casas, antigamente pertencentes aos pescadores, enchem agora as redes sociais de muitos turistas e locais.
Não deixe de aqui dar um passeio de mãos dadas com a sua cara-metade ou de tirar a bola de futebol do carro para brincar com as crianças no grande relvado que ladeia a Ria.
O melhor do talento nacional e internacional reflete criatividade e imaginação
Também Viseu, Aveiro, Oliveira do Bairro, Águeda, Mealhada, Covilhã, Fundão, Castelo Branco, Tomar, Abrantes, Caldas da Rainha, Leiria, e outras tantas vilas e cidades do Centro de Portugal, foram colorindo as suas ruas e edifícios com criações únicas de arte urbana.
No âmbito do festival “FUSING Culture Experience”, por exemplo, a cidade da Figueira da Foz, tornou-se ainda mais atraente e vistosa. Os artistas urbanos convidados foram, na altura, Mário Belém, Add Fuel, Eime, Kruella d’Enfer e Samina. Cada um com uma técnica especifica e uma mensagem a transmitir, deixou a sua marca em diversos pontos da cidade. Projetos da curadoria do WOOL que vale a pena apreciar. Um a um.
Também na Figueira da Foz, Cantanhede e Mira, o projeto “Mar que nos Une” juntou 120 associações e artistas locais. Integra igualmente a instalação de uma obra de Bordalo II – o artista ecológico, em cada um dos três municípios.
Em Cantanhede foi instalada a “Belemnite”, na Praia da Tocha, no edifício do CIAX-Centro de Interpretação da Arte Xávega, e em Mira “O Borralho”. Na Figueira da Foz, mais precisamente na bifurcação para o Cabo Mondego, podemos ver uma “Amonite”, grupo extinto de moluscos que existiu há milhares de anos na zona..
Se estiver na Praia da Tocha em agosto, verifique as datas da “Catraia”, projeto que surge da emergência de criar uma nova geração de gente que “anda à catraia”. A expressão “andar à catraia” significa na gíria da região da Gândara o “ato de caminhar à beira-mar em busca de materiais trazidos pelo mar com o fim de os reutilizar” (in Glossário de Termos Gandareses de Idalécio Cação), uma prática que no passado servia as necessidades da população, mas que, com o desenvolvimento social, económico e industrial das últimas décadas, caiu em desuso. O resultado tem sido uma costa cada vez mais repleta de lixo marinho.
Através da arte e da ação em comunidade, pretende-se refletir sobre os modelos de consumo da sociedade atual, celebrar a cultura da região e trabalharem conjunto para construir um futuro mais sustentável e solidário. É assim que a Praia da Tocha se enche de música, exposições, instalações, conversas e oficinas, num exercício de consciencialização ambiental através da arte.
Em São Pedro do Sul, a antiga Escola Primária mostra-se agora bem colorida.
Apresenta um mural da autoria de Margarida Fleming, artista também ela são-pedrense. O trabalho é uma homenagem a Isabel Silvestre e ao Canto Polifónico Feminino, “Às mulheres do concelho de S. Pedro do Sul. Às que existiram antes e que nos deram o presente. Às que estão e que são promessas de futuro. Às que hão de nascer.”
Há um novo mural de arte urbana para apreciar em Vila de Rei, da autoria de Marta Domingos, artista da terra. Situa-se junto à Estrada Nacional 2, na fachada do Pavilhão Desportivo Municipal, na entrada da vila. O mural tem 9,1m de altura por 19,4m de largura, e contempla quatro temáticas: Estrada Nacional 2, Centro Geodésico de Portugal, Rio Zêzere e o Rei D. Dinis.
Acompanhe-nos por terras que viram nascer Viriato
Com mais de dois milénios de história, Viseu tem como símbolo Viriato, líder dos lusitanos, que expulsou os invasores vindos de Roma, provando a valentia e a resiliência de um misterioso povo que vivia entre as planícies e as serranias da região. Hoje, falamos-lhe do Centro Histórico de Viseu que é um autêntico museu a céu aberto, que não vai querer perder.
O carro fica para trás. Começamos o nosso périplo pelo Adro da Sé, uma convidativa praça e um ótimo ponto de partida, de onde podemos avistar as próximas quatro paragens.
A primeira, e mais evidente, é a própria Catedral de Santa Maria, Monumento Nacional cuja singularidade resulta das sucessivas transformações desde o século XII. A Sé Catedral de Viseu é famosa pela capela-mor gótica e claustros renascentistas. O coro alto de cadeiral gótico e a talha dourada também são dignos de destaque.
O corredor colunado que vê à direita é o Passeio dos Cónegos, que liga o claustro superior da Sé à velhinha Torre de Menagem. É aqui que está guardado o tesouro do Museu de Arte Sacra. Suba até lá e tire todas as fotografias que conseguir, já que esta permite um enquadramento perfeito.
No lado oposto está o Paço dos Três Escalões, do séc. XVI, conhecido hoje por Museu Nacional Grão Vasco. Este museu – que deve o seu nome a Vasco Fernandes, um dos maiores pintores antigos de Portugal – reúne hoje, na coleção principal, um conjunto notável de pinturas de retábulo do artista, bem como de colaboradores e contemporâneos, provenientes da Catedral, de igrejas da região e de depósitos de outros museus.
O acervo inclui ainda objetos e suportes figurativos destinados originalmente a práticas litúrgicas, assim como peças de arqueologia, de pintura portuguesa, de faiança, de ourivesaria, de porcelana oriental e de mobiliário. Um tesouro com vários tesouros lá dentro, portanto.
E se a arte e a arquitetura sacras lhe estimulam os sentidos, não deixe de visitar outro monumento, a Igreja da Misericórdia e mesmo ali ao lado, a Fonte das Três Bicas.
Do Interior ao Litoral, é um pulinho
Na Nazaré, a mais recente obra de arte urbana localiza-se no muro de suporte das escadas de acesso ao Bairro dos Pescadores, na lateral do Mercado Municipal da vila. É dedicada à mulher nazarena e ao seu papel em diferentes áreas da sociedade local, ao longo de décadas.
Topa Topera, nome artístico do nazareno Tiago Estrelinha, é o autor desta manifestação de street art, que pretende transmitir “pela expressão do olhar e aspetos ligados ao traje tradicional, como o cachené, a importância da mulher na sociedade nazarena”.
Para além desta intervenção artística, Filipe Ferreira retrata a Nazaré antiga no Mural da Meia Laranja. São quase 100 metros de desenho em que o autor quis homenagear as suas raízes culturais, tendo-se inspirado na história local, tantas vezes retratada por fotógrafos, cineastas, escritores e artistas plásticos.
Ainda nesta vila piscatória, a Onda Gigante da Nazaré exibe-se no muro da Ladeira do Sítio por Erick Wilson, surfista, mergulhador e artista plástico brasileiro. Com mais de 300m2 de dimensão, integra o projeto “Gigantes do Mar” que tem como objetivo pintar 80 murais por todo o mundo, de forma a alertar para a necessidade de preservação da natureza, chamar a atenção da comunidade para os oceanos, para a vida marinha, para a sua preservação e conservação.
O peixe seco, as gaivotas, as ondas, o surf, o promontório, o Forte de S. Miguel, entre outros aspetos que dão a conhecer parte da cultura da Nazaré, estão presentes num painel em cerâmica que vale a pena apreciar. Da autoria do artista plástico Mário Reis, faz parte do património artístico da gare inferior do Ascensor. Com detalhes perfeitamente fabulosos, o painel com 20 metros quadrados, é composto por 2000 peças, entre azulejos e outras peças cerâmicas.
Daqui, seguimos para a terra da Maria Paciência, também conhecida por Velha Alcoviteira.
Não sabe de quem falamos? Mas sabe quem foi Raphael Augusto Prostes Bordallo Pinheiro ou simplesmente Bordallo Pinheiro.
Aqui é escusado usarmos um ponto de interrogação. O nome deste grande desenhador, ceramista, aguarelista, ilustrador, caricaturista político e social, decorador e jornalista, dificilmente será esquecido, e merece um ponto de exclamação!
Deixou um legado notável, tendo reproduzido satiricamente figuras populares da época, de vários quadrantes sociais e políticos. Deu enorme impulso à caricatura portuguesa, e imprimiu-lhe, com todo o humor e comicidade que lhe eram característicos, um estilo próprio e uma qualidade nunca antes vistos. É o autor do Zé Povinho, esse incomparável símbolo do povo português. E é também, entre tantas outras figuras, o autor de Maria da Paciência, companheira do conhecido Zé Povinho. Já se lembra desta representação burlesca e caricatural com lenço branco na cabeça, traços rudes e verruga no nariz?
Estamos, portanto, em Caldas da Rainha, cidade onde Bordallo Pinheiro provocou uma verdadeira revolução na cerâmica caldense, bem conhecida entre nós, mas também além-fronteiras.
Quando passar pela cidade, fique atento. Há animais à solta. Contam “as estórias da história” das Caldas da Rainha, através da colocação de 8 figuras de metal que homenageiam Bordallo Pinheiro, um dos maiores artistas portugueses de sempre, como já o dissemos. Num curto percurso circundante ao Hospital Termal, esta peças contêm áudios em português e inglês que nos levam num guião total, em cada língua, de vinte e quatro estórias da História das Caldas da Rainha.
Esta iniciativa, o Caldas Story District, é o mais recente roteiro que se junta a outros roteiros já existentes, como os murais nos edifícios da cidade, integrados no Festival Artístico de Linguagem Urbana (FALU), e a Rota Bordaliana, com as suas figuras agigantadas de Bordalo Pinheiro.
Saiba tudo sobre Caldas, terra onde a cerâmica é uma forte presença artística que ainda hoje molda a sua imagem. Não fosse ela uma das cinco Cidades Criativas do Centro de Portugal que fazem parte da Rede das Cidades Criativas da UNESCO! No seu caso e desde 2019, no domínio dos Artes Populares e Artesanato.
Prepare já a sua visita. Aceda à plataforma “Visitas Virtuais 360º” no Centro de Portugal” e procure “Caldas da Rainha 360º”. Vai adorar! E os mais pequenos vão aprender tanto e divertir-se muito mais.
A pouco menos de 10 quilómetros para sul, é obrigatório darmos um saltinho à que é Cidade Criativa da Literatura, desde 2015. Até porque dedicamos este artigo à Arte & Cultura e era, por isso, impensável não falarmos de Óbidos.
A Vila Literária de Óbidos contempla espaços específicos para a organização de exposições de artes, de concertos, de conferências, de performances. Para além dos espaços do livro, a Vila Literária dispõe de museus, galerias e residências artísticas e literárias que lhe permitem completar a oferta e satisfazer as solicitações de escritores, autores, artistas que procuram Óbidos como local de desenvolvimento de projetos ou como local da sua apresentação.
As atividades de Óbidos Vila Literária são contínuas ao longo do ano, com manifestações de maior relevo nos festivais e encontros literários e artísticos, nomeadamente no FOLIO – Festival Literário Internacional e no Latitudes – Literatura e Viagens.
Projetos inovadores exibem-se na paisagem
Convidamo-lo a conhecer um inovador projeto de experiências artísticas na Paisagem: o Cortiçada Art Fest – promovido pelos municípios de Oleiros, Proença-a-Nova e Sertã. Parta à descoberta de obras criadas para lugares específicos: na montanha, na linha de água de um espaço rural, e no espaço público.
Siga a Rota do Experimenta Paisagem que integra no Parque da Carvalha, uma das obras de arte que definem o início da Rota da Cortiçada: o Véu da Sertã. A obra está localizada sobre o açude da Ribeira da Sertã e é definida por dois pórticos que suportam uma sequência ondulada de seis chapas espelhadas moldadas que se sobrepõem a 2,4m de altura. A sequência destas superfícies espelhadas evidencia e multiplica os reflexos e as relações entre a ribeira, o jardim e a paisagem rural.
Na Ribeira de Oleiros, na zona da Torna, destaca-se na paisagem a obra Moon Gate. Fazem igualmente parte deste projeto nas Rotas das Linhas de Água – as obras Menina dos Medos, em Sobral Fernando, e Magma Cellar, em Cunqueiros, ambas as aldeias do concelho de Proença-a-Nova.
Os roteiros de Arte na Paisagem da Cortiçada e das Linhas de Água são um manifesto de mudança sobre a paisagem. Como arte pública, cada obra é uma criação enraizada no lugar, nas memórias e nas aspirações de quem o habita. Enquanto criações contemporâneas, dialogam com a paisagem cultural e geográfica, intensificando a usufruição estética. Os roteiros são livres e incluem a experiência e vivência das paisagens habitadas com as suas obras de arte.
Venha descobri-los. São simplesmente fantásticos!
Uma Paisagem reinventada
A modernidade trouxe novas tendências às cidades do Centro de Portugal que se refletem atualmente numa conjugação única entre tradições históricas e espaços modernos.
Em meados do século XX, o movimento arquitetónico em Portugal passou a inspirar-se no futuro, adaptando e reabilitando espaços históricos dando-lhes novas funções, condições e traços criativos.
Hoje, pode visitar alguns dos melhores exemplos da arquitetura contemporânea em Portugal como o Centro de Artes Visuais em Coimbra ou o Núcleo de Arte Contemporânea na Marinha Grande.
Impulsionada na sua origem pelo apoio do Marquês de Pombal, a relevância e o impacto da produção de vidro na Marinha Grande foi e é tão importante, que lhe confere o título e reconhecimento como a Capital Portuguesa do Vidro.
Uma visita ao Museu do Vidro, inserido na outrora residência da família Stephens – os antigos proprietários da Real Fábrica do Vidro, dar-lhe-á uma visão ampla sobre as origens, técnicas e a extrema importância local da indústria vidreira que ali continua a dar cartas desde o século XVIII.
Nesta viagem pelo mundo da produção artística e utilitária do vidro, o próximo destino encontra-se do outro lado da rua, no Atelier de Alfredo Poeiras, um artesão que ainda hoje se dedica à produção artesanal do vidro soprado. Nos meses de abril, agosto ou dezembro, ser-lhe-á dado acesso privilegiado às técnicas por trás desta arte. Esta herança cultural transmitida de geração em geração, nas famílias marinhenses de operários e mestres vidreiros, regista 270 anos de manufatura ininterrupta de vidro.
Outro exemplo da arquitetura contemporânea na região, é o Centro de Cultura Contemporânea de Castelo Branco.
Por falar nisso, já descarregou a APP CB Rotas? Em português, inglês e espanhol, o Município albicastrense divulga dez rotas turísticas emblemáticas do concelho: a Rota Ativa, Radical, Viva, Lazer, Azeite, Bordado, Museus, Murais, Património, e Artes e Ofícios.
Uma paragem impõe-se no que é considerado um dos muitos ex-líbris da cidade de Leiria, e que também ele surpreende pela sua arquitetura contemporânea.
Falamos do m|i|mo – Museu da Imagem e Movimento, um espaço de homenagem à fotografia e ao cinema, juntando arte, ciência e técnica.
As suas coleções de objetos dão a conhecer a evolução da cinematografia, numa magnífica viagem pelos limites da imaginação, num caminho de luz e sombra, cor, ritmo e volume, engenho e arte… ilusão e realidade!
Este espaço leiriense é apenas o ponto de partida para os outros locais dignos do maior interesse. Aqui, os monumentos, as praças, os jardins, o Rio Lis, as ruas e as salas de espetáculos são lugares vivos e dinâmicos. São locais de encontro de pessoas alegres que vivem intensamente a arte e cultura através de eventos espalhados por cada canto e recanto. E são tantos!
Cidade eclética no campo da música, destacam-se projetos musicais para todos os gostos e multiplicam-se concertos ao longo de todo o ano. A Cidade oferece-se de várias maneiras e muito particularmente em forma de Música. Em 2019, viu a UNESCO anunciar a sua designação enquanto Cidade Criativa na área da Música.
Da Região de Leiria, passamos passamos para a Beira Baixa. É que Idanha-a-Nova, tal como a cidade do Lis, também ela se tornou Cidade Criativa da Música.
Desde 2015, graças ao seu património musical e à vivência que a música proporciona no concelho, Idanha-a-Nova passou a integrar a Rede UNESCO, conquistando o seu lugar entre as grandes capitais e cidades de todo o Mundo.
Tem no Adufe, o maior símbolo da riqueza e da tradição musical do concelho. Mas não é só. Investiga profundamente as suas tradições, aposta em infraestruturas culturais, e desenvolve o ensino da música e o fabrico e restauração de instrumentos musicais. O concelho acolhe também um número raro e diversificado de grupos tradicionais e promove, ao longo do ano, uma quantidade impressionante de eventos ligados à música, desde a eletrónica mais moderna aos sons tradicionais, passando pelo registo erudito.
Cidades que guardam um pedaço da nossa história
No Centro de Portugal, há cidades dinâmicas que mantêm vivas as lendas, tradições e histórias. É o caso de Coimbra, dona da universidade mais antiga do País, sendo que já existe desde 1290. É hoje conhecida como a cidade dos estudantes que lhe imprimem a sua singularidade.
Definitivamente reconquistada pelos cristãos em 1064 por D. Fernando I, o Magno, já foi a capital de Portugal até 1255. Aqui morou o rei D. Pedro e a sua amada Inês. No Mosteiro de Santa Cruz estão presentes os túmulos dos dois primeiros reis de Portugal: D. Afonso Henriques e D. Sancho I.
Cada monumento, igreja, casa e rua, bem como, a sua topografia e situação geográfica contribuíram, de forma muito significativa, para o seu crescimento e desenvolvimento. Não saia de Coimbra sem visitar a Biblioteca Joanina. É uma das mais belas de Portugal e das mais completas no que toca a livros e coleção dos mesmos.
Frequentemente apelidada de Cidade do Conhecimento, Coimbra é Património Mundial da Humanidade, tal como o Mosteiro da Batalha, o Mosteiro de Alcobaça e o Convento de Cristo em Tomar. Lugares onde a beleza da arte e da cultura se eleva até às alturas…
Onde o tempo deixou as suas marcas, os espaços foram reinventados e re-aproveitados, respirando uma nova vida na paisagem urbana do Centro de Portugal. Merecem a sua visita!
Centro de Portugal, um destino e tanto!
Artigo em permanente atualização.