Artesanato do Centro de Portugal: alma e autenticidade, tradição e modernidade

As oito sub-regiões da região Centro de Portugal estão recheadas de tradição, daquela que se transforma em arte e é levada pelo mundo fora como recordação, daquela que sabe representar o trabalho ancestral de um povo e as características geográficas de um território.

No Centro de Portugal, o artesanato não é apenas uma atividade económica, mas é também uma forma de manter viva a história e as tradições, oferecendo aos visitantes e residentes a oportunidade de conhecer e adquirir produtos que carregam a alma e a autenticidade desta região.
Cada peça artesanal, utilitária ou decorativa, é feita com materiais extraídos da natureza, sejam o vime, o vidro, o barro, a lã, a madeira, os metais e outras matérias primas que se moldam nas mãos criativas de homens e mulheres, tornando-se um elo entre o passado e o presente.

As fábricas em laboração abrem portas a visitas e é indescritível o sentimento de pertença que nos transmite cada processo produtivo. É o ADN português e do Centro de Portugal que sai, todos os dias, de mãos de operários dedicados à arte do saber-fazer.

No Centro de Portugal, “O prazer do trabalho aperfeiçoa a obra” – Aristóteles.

A arte de trabalhar os Têxteis

A arte de trabalhar o têxtil advém do neolítico e foi persistindo ao longo dos anos, sendo ainda audível o matraquear metódico e inconfundível dos teares que, na sua base ancestral, ainda são utilizados no Centro de Portugal.

Os tapetes e a tapeçaria acompanharam a evolução da tecelagem e ganharam grande relevo em Ourém, Minde, Mira de Aire e Porto de Mós, onde se continua a produzir mantas, carpetes, tapetes e passadeiras com “trapos”, tiras recortadas de roupas usadas ou de desperdícios de tecidos.
MIAT – Museu Industrial e Artesanal do Têxtil, em Mira de Aire, concelho de Porto de Mós, homenageia os empresários e os operários que trabalharam na indústria têxtil desde 1920 até há bem pouco tempo. O seu acervo é inestimável para a compreensão e valorização do ciclo da lã, sendo possível aos visitantes tomar conhecimento de todo o processo de transformação da lã desde a tosquia, lavagem, cardação, fiação, tinturaria e tecelagem.
No concelho de Alcanena, deslumbre-se com o fabrico manual da Manta de Minde, cuja história remonta a sua existência ao séc. XIX. A Manta é tecida com lã 100% portuguesa. No CAORG – Centro de Artes e Ofícios Roque Gameiro, em Minde, poderá assistir à arte do fabrico deste produto nacional.

Esta arte milenária da tecelagem pode ainda ser encontrada no concelho de Viseu e também em Coimbra, com a Tecelagem de Almalaguês, bem como, no Sardoal, em Tomar, ou em Vila de Rei, onde as artesãs das freguesias da Fundada e do Cidreiro, continuam a produzir colchas, toalhas, naperons, tapetes e mantas de trapos. Também no concelho de Estarreja, as tecedeiras continuam habilidosamente a dominar o tear.

De igual importância são as tapeçarias de lã pura, das zonas serranas, onde encontramos as mais modernas empresas de tecnologia têxtil que, no entanto, ainda produzem manualmente, tal como em Manteigas. E quem não conhece o cobertor de papa, de Maçainhas, concelho da Guarda?
Ainda na Serra da Estrela, através da Rota dos Lanifícios, descubra a identidade de um povo e aprecie a sua história, feita de fios. Ofereça parte de uma história que começou nestas fabulosas montanhas para que acompanhe quem o recebe, num património reinventado à medida do Presente.
A elegância do linho e a robustez do burel, a arte tradicional de tecer no tear, a flexibilidade com que se ajusta às peças de decoração, de vestuário e de acessórios, para ela e para ele, faz deste um produto único.
Visite o Museu de Lanifícios da Universidade da Beira Interior, na Covilhã. Na mesma cidade, a New Hand Lab mostra-nos o trabalho de designers e de artistas que se instalaram em antigas fábricas. Destaque vai também para a Burel Factory e para a Ecolã, em Manteigas. E, em Loriga, no concelho de Seia, para a Fábrica Malhas Pinto Lucas.

A oferta do Centro de Portugal contempla ainda, o Museu do Linho de Várzea de Calde, em Viseu e o Museu da Seda, em Castelo Branco, entre muitos outros.

Já os bordados e outras artes de agulha são produzidos em muitas partes do Centro de Portugal, sendo uma arte ancestral especialmente enraizada em Castelo Branco, de desenho muito próprio e uma simbologia absolutamente inconfundível. Os motivos genuínos deste bordado a seda sobre linho, apresentam “Árvores da Vida” de uma beleza e riqueza incomparáveis. Com ramos que se elevam ao céu e outros símbolos, são trabalhados por mãos certificadas que apelam à renovação e à fertilidade, com minuciosa habilidade e o contentamento de quem procura o verdadeiro bordado de Castelo Branco. Não acredita? Visite o Centro de Interpretação do Bordado!

Em Peniche, apresenta-se a secular arte de trabalhar a renda. A confeção de artigos de renda como peças decorativas e de uso comum, como brincos, gravatas, panos, lenços, podem ser adquiridas e apreciadas ao vivo, na Escola Municipal de Rendas de Bilros de Peniche, que acolhe jovens dos 6 aos 90 anos. Já o Museu da Renda de Bilros de Peniche promove o estudo, a conservação e a valorização deste património cultural.

E já alguma vez ouviu falar do “ponto pé de galo” ou do “ponto pé de flor, bordado sobre o linho branco, meio linho ou estopa? Então saiba mais sobre os lindos bordados e tapeçarias de Óbidos!

Ainda no Oeste, em Alcobaça, a colorida Chita é arte. Tecido de algodão estampado, trazido da Índia para a Europa pelos portugueses em meados do século XVIII, para decoração ou vestuário. Nas mãos das habilidosas artesãs locais, estes tecidos ganham vida e podem ser encontradas em qualquer loja do comércio local, em adereços de decoração ou em peças de vestuário.

Sabia que a chita chega a Portugal no século XV, pela mão dos navegadores portugueses que navegavam para oriente e, de regresso, traziam tecidos com padrões exóticos que faziam as delícias das damas da corte? É verdade! 

Mas é só no século XVI que este pano de algodão, com padrões muito coloridos – desenhos de aves exóticas e frutos tropicais, animais, flores, cornucópias – surge documentado como Pano de Alcobaça. De oferta variada, a Chita de Alcobaça tem vindo a reforçar a sua identidade ao longo dos séculos.

Renda de Bilros – Peniche

A confeção de bonecas de pano é uma verdadeira arte decorativa que continua a encantar miúdos e graúdos. Em Monsanto, a aldeia mais típica de Portugal, encontramos as marafonas, as bonecas de pano sem olhos, nariz ou ouvidos. Estas bonecas do concelho de Idanha-a-Velha são uma tradição artesanal da região que remonta a séculos de história e cultura local. São cuidadosamente feitas à mão com diversos materiais como trapos, palha, e lã, representando figuras femininas vestidas em trajes tradicionais da Beira Baixa. Cada boneca é única e reflete a rica herança cultural da região, incluindo detalhes minuciosos como os bordados e os padrões das roupas.
Mais do que simples brinquedos, as Bonecas de Idanha-a-Nova são símbolos do folclore e da identidade local. Elas servem como embaixadoras culturais, levando consigo a memória das práticas rurais e das festividades tradicionais. Hoje, continuam a ser produzidas por artesãos locais e são valorizadas como peças de arte popular, atraindo tanto colecionadores quanto turistas interessados em conhecer a cultura e as tradições portuguesas.

Em Pombal e Abrantesas bonecas de trapos fazem as delícias de avós e netas. Na Nazaré vestem-se bonecas a preceito com trajes tradicionais e bordam-se magníficos aventais em tamanho natural. Não precisam falar, mexer os olhos ou a boca, basta sorrirem e fazerem sorrir e a magia acontece.

Bonecas de Monsanto – Idanha-a-Nova


A arte de moldar a Cerâmica e a Olaria

cerâmica e a olaria têm profundas tradições na região, mas comecemos pelo barro preto que ao longo dos séculos se instalou em Vila Nova de Poiares. Utilizado como utensílios de cozinha ou somente como peça decorativa, o barro preto caracteriza-se pela sua cor, em que o preto substitui o vermelho do barro. O barro preto está intimamente ligado à maior marca de Vila Nova de Poiares: a “Chanfana”, confecionada nos tradicionais caçoilos de barro preto de Olho Marinho, criando aqui a simbiose perfeita entre a gastronomia e o artesanato. Esta tradição secular é ainda muito presente também em Molelos, Tondela. Para além do barro preto ainda existe o barro vermelho, com maior expressão em Miranda do Corvo.

É no Centro de Portugal que encontramos a mais antiga referência de olaria do país. Na Bajouca, concelho de Leiria, a olaria ainda representa uma parte significativa da economia local. “O segredo está nas mãos”, dizem os artesãos locais enquanto amassam e pressionam o barro na roda.

Alcobaça e as suas influências conventuais promoveram o aparecimento de muitas oficinas onde se trabalhava a argila, de forma manual. Os monges barristas, no Mosteiro de Alcobaça, terão executado esculturas em terracota, no auge do período barroco, o que mais tarde, com outros materiais compostos, resultaram em pastas cerâmicas de cores, densidades e plasticidades diferentes. Deram origem a esta tão afamada louça de Alcobaça, ainda tão atual, com cor mais clara que o habitual, e decoração simples. Esta arte está ainda presente em Condeixa-a-Nova e Coimbra, um dos mais antigos e importantes centros de produção oleira do país, existindo uma rede de produção organizada desde o século XVI.

Também na Cidade Criativa do Artesanato e Artes Populares (2019)Caldas da Rainha, a cerâmica figurativa ganha magnitude além-fronteiras. Aqui existem algumas das fábricas de cerâmica mais prestigiadas do país, onde produzem as míticas Faianças do Bordallo Pinheiro, vegetalistas e de carácter decorativo, onde a pintura cerâmica ganha expressão. Juntamente com o Museu Raul da Bernarda, em Alcobaça, dão nome à prestigiada Rota da Cerâmica do Oeste.

Grande destaque vai também para a cerâmica de Coimbra, um dos mais antigos e importantes centros de produção oleira do país, existindo uma rede de produção organizada desde o século XVI, mas com registos que remontam a 1145.

Quando falamos em porcelana e louça, é imperativo apreciar e referenciar as porcelanas da Vista Alegre, em Ílhavo, onde ainda integra no mesmo edifício a oficina de pintura manual das peças de arte.

A tradição da Azulejaria

azulejaria, uma arte com mais de 500 anos de história diretamente associada aos muçulmanos e, no Centro de Portugal, é na Região de Leiria e na Ria de Aveiro que encontra esta belíssima arte decorativa no seu esplendor. Popularizada no barroco, onde se decoravam fachadas de edifícios, assume hoje um papel importante no nosso dia-a-dia. A Fábrica do Juncalem Porto de Mós, famosa pelas suas cerâmicas foi a responsável pela produção dos painéis de azulejos figurativos que decoraram a Sala dos Reis do Mosteiros de Alcobaça, num importante simbiose entre a história da olaria e cerâmica em território nacional. Mais a norte, em Ovar, cidade Museu Vivo do Azulejo, os azulejos são um bem patrimonial e um elemento diferenciador que marca a imagem e a história da cidade. Ainda na Região de Aveiro, a Fábrica de azulejos fundada por João Aleluia, agora renomeada de Cerâmicas Aleluia, comprova a importância do fabrico de azulejaria na região.

Fruto da industrialização dos finais do século XIX, o azulejo veio a tornar-se um material muito divulgado para o revestimento dos edifícios. Devido à profusão de cores e padrões, os núcleos urbanos ganharam outra vida, como é o caso do Bairro da Beira Mar, em Aveiro, ou da Cidade de Ovar.

Em Ovar, os azulejos são um bem patrimonial e um elemento diferenciador que marca a imagem e a história da cidade. A expressão “Ovar – Cidade Museu Vivo do Azulejo”, resulta da quantidade e diversidade de fachadas azulejadas e ornamentos datados dos séculos XIX e XX.
A Rua do Azulejo é um projeto inovador que, através da criação de tapetes azulejares, reinterpreta o azulejo tradicional de forma lúdica e contemporânea, criando um percurso pelas principais fachadas azulejares do centro da cidade.
Conheça este valioso património através de visitas guiadas ou usufruindo do jogo “Vai Passear”, propostas que aliam a vertente turística e cultural ao lazer e entretenimento.

Rua Fonte do Casal
GPS: 40.855748, -8.623375
T (+351) 256 509 153 | 930 409 207
turismo@cm-ovar.pt

Atelier de Conservação e Restauro do Azulejo 
Criado para preservar o património edificado de Ovar nas suas várias vertentes e alertar para a importância – pela quantidade e variedade – da sua componente cerâmica, incidindo sobretudo no azulejo de fachada datado entre os finais do séc. XIX e princípios do séc. XX.

Escola de Artes e Ofícios de Ovar
Rua Fonte do Casal
GPS: 40.855748, -8.623375
T (+351) 256 509 180
eao@cm-ovar.pt | www.cm-ovar.pt | f-ovarcultura

Outros locais onde o azulejo se impõe

Palácio da Justiça – Ovar
GPS: 40.867378, -8.622814

Igreja de Válega – Ovar
GPS: 40.833574, -8.580465

Igreja de Cortegaça – Ovar
GPS: 40.943051, -8.625110

Estação da CP – Ovar
GPS: 40.872333, -8.635086

Estação da CP – Avanca, Estarreja
GPS: 40.807534, -8.584569

Estação da CP – Aveiro
GPS: 40.644180, -8.640688

Fontanário do Outeiro da Maceda – Murtosa
No Largo do Outeiro da Maceda, na Gafanha Baixa, freguesia da Murtosa, a caminho do Cais do Chegado, encontramos um belíssimo fontanário com um painel de azulejo gigante da autoria do Mestre José de Oliveira.
Este painel, de generosas dimensões, contíguo ao monumento a Nossa Senhora dos Navegantes, foi inaugurado em 2002 e retrata as atividades económicas que marcaram, desde sempre, a relação das gentes Murtoseiras com a Ria de Aveiro: a Agricultura e a Pesca.
Rua D. Dinis
GPS: 40.729574, -8.636387

A habilidade de transformar a Madeira

Os saberes que materializam a relação dos homens com o mar está bem patente e representado nas miniaturas dos barcos em meia-lua da Praia da Vieira, e Leiria ou da Nazaré. Estes mini barcos de madeira são maioritariamente executados por antigos pescadores que relembram os seus dias de faina no mar.

Em Aveiro, falamos de barcos à escala real. O Sr. Esteves, o mais antigo carpinteiro naval da Ria de Aveiro desde pequeno que trabalha na arte de construção de embarcações tradicionais de madeira. Hoje, com o seu estaleiro aberto, o Mestre tenta transmitir os seus conhecimentos adquiridos à geração atual para que a arte de construção do moliceiro tradicional permaneça viva.

Terra profundamente ligada aos rios e ao transporte fluvial, Constância vê nas miniaturas de barcos a memória do tempo dos seus varinos. Dessa altura surgem também as bonequinhas que as mulheres dos marítimos confecionavam, aproveitando o tempo e restos de tecido, para depois venderem e minorarem as suas carências.
Também em Vila Nova da Barquinha, Mação e Ferreira do Zêzere, são conhecidas as miniaturas em madeira do tradicional barco típico da pesca do Rio Tejo , a “bateira”.

Mestre Esteves – Pardilhó, Estarreja

Quem não tem uma colher de pau nos seus utensílios de cozinha? A famosa Colher de Pau é atualmente uma peça de artesanato de Arganil, onde as peças são talhadas manualmente em madeira de pinho bravo em estado verde, pelos “colhereiros” e constituem-se como o artesanato mais genuíno do concelho.

Já o artesanato de Penacova é marcado pela produção artesanal de Palitos.

A tamancaria é uma arte proveniente de Cantanhede, onde ainda se faz de forma manual. Utilizando diversos tipos de madeira, os tamancos são definidos pelo nome, consoante as suas características: o Rabelo, o Poveiro, a Chanca para os senhores; a soca, a varina e o papo-seco, para as senhoras.

A produção de tamancos também chegou a dar emprego a grande parte da população de Alverca da Beira, em Pinhel.

Outra das artes de trabalhar a madeira é a Tanoaria, arte muito comum das regiões ribeirinhas e ligadas à produção vitivinícola, que consiste no fabrico de vasilhames em madeira para o armazenamento do vinho. Esta arte ancestral, ainda viva em Cantanhede, Ovar e Esmoriz, e passa de geração em geração, resistindo ao tempo e à evolução.

Artesão a trabalhar a madeira – Colher de Pau @Município de Arganil

A maestria de lapidar o Cristal e o Vidro

O fino toque do Cristal, encanta-nos.

Marinha Grande e Alcobaça são, indubitavelmente, os marcos desta arte de trabalhar o Cristal e o Vidro. Em algumas fábricas, é possível ficar a conhecer o verdadeiro processo do vidro soprado manualmente. Desde o sopro, à técnica do Fusing ou Maçarico, nada ficará por explicar.

Em Alcobaça, devido à proximidade com a Marinha Grande e da sua forte tradição vidreira, aqui se desenvolveu o Cristal como uma das suas artes por excelência. Aqui, a elegância e imaginação, é arte.

Na Marinha Grande, local de importante referência nacional na produção de vidro de forma artesanal, é ainda possível ver ao vivo os artesãos a trabalhar manualmente o vidro. É no Museu do Vidro que se podem apreciar fabulosas obras de grandes nomes da produção vidreira nacional.

Com um legado histórico incalculável, destacam-se também unidades fabris do setor do vidro automático e de laboratório. Várias empresas contam com dezenas de anos de história na indústria vidreira. Produzem copos, cálices, canecas, taças, vasos, entre outros, e é possível acompanhar todo o seu processo produtivo.

E não se fala da Marinha Grande sem falar da indústria dos moldes. Muitas são as fábricas que proporcionam visitas mediante marcação prévia.

Vidro da Marinha Grande

A destreza de entrelaçar Elementos Vegetais

O aproveitamento de fibras vegetais entrelaçadas para o fabrico de utensílios domésticos manifesta clara tradição no Centro de Portugal. Se antigamente se destinavam à colheita, transporte e conservação de bens, ou até ao calçado, atualmente a cestaria é frequente utilizar-se para fabricar alcofas e cestos, para decoração e para uso pessoal. Esta arte manual é de extrema perícia onde a imaginação conta e muito! Para além de trabalhar o vime, a arte da cestaria pode ainda estar relacionada com o empalhamento e a cordoaria, com o uso da palha, o junco e outras fibras de origem vegetal.

No concelho de Pombal, na Ilha, assiste-se a uma revitalização da arte, com particular destaque para as esteiras de esparto, construídas segundo uma técnica de entrançado, e com bonitos efeitos decorativos. O engenho de artesãos marinhenses exprime-se, ainda, no empalhamento de garrafas e garrafões.

Na região, podemos adquirir estas peças de artesanato, cada uma à sua maneira. A cestaria de Proença-a-Nova, as peças de Bracejo, em Sortelha e o junço de Beselga, em Penedono são únicas e feitas com matérias-primas genuínas e locais. Inevitável será mencionar a cestaria de Gonçalo, freguesia a de artistas com arte do concelho da Guarda. No Fundão, os cesteiros de Alcongosta ainda mantêm viva esta arte, pois é nestas famosas cestas que se transportam as melhores cerejas de Portugal.

Após a visita ao Mosteiro de Santa Maria de Coz passe na loja do projeto COZART que mantém viva a tradição das “Cestas de Coz”, as quais, representam a ancestral arte artesanal de trabalhar o junco. Este projeto social aposta na preservação desta herança associando a tradição à inovação e ao design.

Na verdade, a arte do empalhamento em junco, vime, ráfia, feno, bunho ou palha está muito enraizada por toda a região.

O engenho de trabalhar o Metal

A arte de trabalhar o metal assumiu um papel revolucionário na atualidade. A necessidade de armazenar líquidos e produtos secos promoveu a produção da latoaria. Atualmente é uma arte que persiste naqueles que teimam em ensinar o ofício e se recusam a abandonar os alicates de pontas chatas e redondas, a bigorna, o compasso de bicos e o ferro de soldar.

A latoaria, muito utilizada sobretudo no fabrico artesanal do queijo ou das vasilhas para guardar e transportar o azeite e o vinho, pode ser encontrada nos concelhos da Batalha, Leiria, Pombal, Ourém, Tomar e Alcanena. Também em Ílhavo e na Sertã, ainda é produzida de forma tradicional.

A curiosidade pela arte de trabalhar o ferro tem feito surgir nas últimas décadas, um crescente número de produtores artesanais de cutelaria. Tal como em qualquer peça de arte, na cutelaria, a produção artesanal, ainda que reduzida, é um artigo de luxo, único e nobre. Para todo o cuteleiro, “a máquina não apresenta a qualidade e a meticulosidade que o artesão dedica”.

No centro de Portugal, a cutelaria artesanal pode ser encontrada no Fundão, especialmente pelas mãos de Telmo Roque.

No concelho da Guarda, nomeadamente no Verdugal, as facas são um excelente cartão de visita. O trabalho manual ali produzido, em várias oficinas, faz deste concelho um dos melhores exemplos de produção de cutelaria artesanal nacional. Um pouco mais a sul, a cutelaria ainda tem expressão na Região de Leiria e na Região Oeste.

A minúcia de esculpir a Pedra

É obrigatório referir a mestria com que os canteiros da Batalha talham novas obras e restauram o nosso património, dominando a arte da Cantaria.

Em Cantanhede também esta é uma arte que persiste. Impossível não destacar, ainda, os canteiros de Alcains, em Castelo Branco, e seu museu dedicado aos artesãos da arte da cantaria, bem como, as pedreiras e trabalhos em pedra, no concelho de Pinhel. 

A arte de calcetaria é uma arte genuinamente portuguesa, e a construção e decoração de passeios através de ferramentas manuais e técnicas tradicionais é uma verdadeira arte, apenas ao alcance de alguns. A arte de pavimentação das ruas em pedra calcária ou basalto é famosa na região de Leiria, pelos calceteiros de Alqueidão da Serra, concelho de Porto de Mós.

Calçada Portuguesa em Leiria

A arte de transformar a Pele

Uma das indústrias de maior relevo no concelho de Alcanena são os curtumes, razão pela qual o concelho é designado de “Capital da Pele”. Muitas são as empresas que se destacam neste setor, considerado uma arte no que diz respeito ao tratamento e acabamento de peles, para a produção muitas vezes artesanal, de artigos vários em pele e marroquinaria. É aqui que se localiza o CTIC – Centro Tecnológico das Indústrias do Couro, que dá a conhecer a investigação realizada na área dos curtumes e as principais características destes materiais.

Aqui o destaque vai também para os adufes, instrumentos musicais tradicionais portugueses, profundamente enraizados na cultura da Beira Baixa, especialmente em regiões como Idanha-a-Nova. Este instrumento, de origem árabe, é essencialmente um pandeiro quadrado, feito de madeira e pele de cabra, com pequenas sonoridades de metal no seu interior. Tradicionalmente, os adufes eram tocados principalmente por mulheres em festividades e celebrações religiosas, como as festas de Santa Cruz e nas Cantarinhas.
Mas o adufe é mais do que apenas um instrumento. É um símbolo cultural que carrega séculos de história e tradição. O seu som vibrante e ritmado é uma parte indispensável das expressões musicais e rituais locais, e a sua fabricação continua a ser um processo artesanal passado de geração em geração. Hoje, o adufe não só preserva o património musical da região, mas também é visto como um emblema da identidade cultural portuguesa, representando a ligação profunda entre a música, a comunidade e a espiritualidade. Não tivesse Idanha, o carimbo da UNESCO pelo facto de ser Cidade Criativa da Música, expressão artística que acompanha o dia-a-dia das pessoas.

Durante todo o ano, realizam-se várias feiras e mostras de artesanato que nos dão a conhecer a nossa herança. Acompanhe a nossa agenda, descubra quando é a próxima feira e aproveite para também para saborear o melhor da nossa doçaria e produtos regionais.

As cores e formas do artesanato salpicam os devaneios de qualquer imaginação. Consegue imaginar uma região assim? Venha conhecê-la!