O compositor e vocalista da banda Bon Iver refugiou-se numa cabana no estado de Wisconsin durante três longos meses invernais para compor o seu primeiro álbum, “For Emma, Forever Ago”. Paul Gaugain mudou-se para o Tahiti, ilha que o inspirava pela sua atmosfera vibrante, e pintou lá imensas das suas obras, incluindo “Ia Orana Maria”. James Joice decidiu que ia acabar de escrever “Ulisses” em Paris. Alugou um velho apartamento na palpitante capital francesa dos anos 20. Quinhentas páginas depois, nascia a sua obra-prima. O auto-exílio criativo é intemporal. A busca por inspiração não cede a grãos de ampulhetas, nem a linhas que delimitam países ou marés que separam continentes. Pelo mundo há imensos pontos inspiradores que atraem mentes criativas como um íman. O Centro de Portugal é um deles.

  

Esse é o desígnio da Cerdeira Village. Uma antiga aldeia do Xisto na Lousã, semi-abandonada, que foi inteiramente recuperada para servir a criação artística, promovendo residências artísticas, workshops e experiências criativas. Ao todo são nove casas de pedra e lajes de xisto, remodelas e intervencionadas por artistas, todas com uma vista maravilhosa sobre a serra. A inspiração é estimulada pela luxuriante natureza envolvente, pela tranquilidade e pela ausência de distrações.  Nas casas não há televisões nem internet. São espaços de conversa, de imaginação e criação. Rede wi-fi só no café da aldeia, onde são servidos os pequenos-almoços. O empreendimento também organiza com frequência cursos criativos, onde é possível experimentar e adquirir as mais variadas aptidões, desde escultura em madeira, escrita criativa de viagens, cerâmica japonesa, desenho, até aprender a construir uma cadeira. Na aldeia existe também um forno a lenha para cozer pão, uma biblioteca e até uma galeria de arte.

E no entanto, no Centro de Portugal, há ruas que são autênticas galerias de arte. Na Covilhã há pinturas gigantes a dar vida a edifícios degradados na zona histórica da cidade. Ao todo foram instaladas 27 impressionantes criações de artistas nacionais e internacionais, uma iniciativa da WOOL – Festival de Arte Urbana da Covilhã, com o intuito de dinamizar zonas degradadas e promover espaços esquecidos. Uma rota de arte urbana que torna cada visita uma descoberta, uma surpresa inspiradora e um inevitável clique com a máquina fotografia.
Esta tendência alastrou-se a outras ruas, outras galerias ao ar livre do Centro. Aveiro, com stencils do artista Vhils, Figueira da Foz, com um mural de azulejos do artista Add Fuel, Fundão e Bombarral, com as criações em renda da artista polaca NeSpoon, Viseu, com edifícios degradados que agora resplandecem com as cores e formas de inúmeras pinturas, ou em Estarreja onde, inclusivamente, foi criado o Festival de Arte Urbana ESTAU, onde é possível deparar com pinturas de murais, instalações, workshops, filmes, conferências, visitas guiadas e performances.

Ainda nas ruas da Covilhã, é possível bater na pesada porta de uma antiga fábrica de laticínios e entrar num sítio onde fervilha criatividade e imaginação. O projecto New Hand Lab criou um espaço que promove a expressão livre e criativa, a inovação e o empreendedorismo através da concretização de ideias, produtos e iniciativas. Oferece aos criadores locais uma área de trabalho e uma loja onde podem vender os seus produtos. Neste laboratório criativo é possível encontrar artistas plásticos, criativos, designers,  sketchers, promotores culturais, fotógrafos, pintores, videógrafos, estilistas e operários diversos. Bata à sua porta. Seja para visitar, para se inspirar ou para criar.