O Roteiro do Crime do Padre Amaro é o pretexto para redescobrir Leiria numa visita encenada e guiada pelo “próprio” Eça de Queiroz. Foi precisamente há 153 anos que Eça de Queiroz chegou a Leiria, onde tomou posse do lugar de Administrador do Concelho. Aqui escreveu o romance “O Crime do Padre Amaro”. Em formato de roteiro literário dramatizado, a rota é um convite à descoberta dos lugares que têm ligação à história e ao autor.

Este roteiro que percorre a zona histórica da cidade será guiado pelo “próprio” Eça de Queiroz que, ao longo de noventa minutos, dá a conhecer os lugares que têm ligação à obra, imortalizando a cidade. Passo a passo, pelos lugares mais distintivos de Leiria, o roteiro tem início na Praça Rodrigues Lobo. Daí, segue para a Igreja da Misericórdia, com uma paragem na Casa do Arco. Continua pela Travessa da Tipografia, sobe até à Torre Sineira e termina no Miradouro Ernesto Korrodi.

A nova edição da Rota d’O Crime do Padre Amaro, cujo guião de adaptação e direção de atores é da autoria de Fernando José Rodrigues, conta com a presença de oito atores do Grupo de Teatro O Gato – Palavras de Sobra da Associação de Artes.

Encenação Grupo de Teatro o Gato

Eça de Queirós chegou a Leiria nos finais de julho de 1870, após ter sido nomeado Administrador do Concelho, com apenas 25 anos de idade. À sua chegada, Eça é recebido protocolarmente pelas entidades, mas também pelos curiosos da terra, que queriam conhecer o novo Administrador. É Júlio Teles, seu copista, quem o aconselha a ficar na pensão situada na Rua da Tipografia, nº 13, onde estavam igualmente hospedados um padre, um médico, um deão da Sé, um funcionário público e o proprietário da farmácia, que se entretinham ao serão a jogar à bisca e a ouvir as guitarradas de Júlio Teles.
Nessa altura, a pitoresca cidade do Lis tinha cerca de três mil habitantes e Eça de Queiroz descrevia-a como “o meio beato de Leiria”.

Encenação “Eça de Queiroz” – Câmara Municipal Leiria

# 1. Praça Rodrigues Lobo

A principal praça da cidade foi centro de irradiação da vila a partir do século XII. Tornou-se um centro de poder em 1423, no reinado de D. João I, onde viriam a ser instalados os Paços do Concelho e o Pelourinho. Neste espaço, realizava-se a feira semanal onde a população rural vinha escoar o seu excedente.

«Eram quase nove horas, a noite cerrara. Em redor da Praça as casas estavam já adormecidas: das lojas debaixo da Arcadas saía a luz triste dos candeeiros de petróleo, entreviam-se dentro figuras sonolentas, caturrando em cavaqueira, ao balcão». in o Crime do Padre Amaro.

Praça Rodrigues Lobo – Câmara Municipal Leiria

# 2. Igreja da Misericórdia | Casa do Arco

A Igreja da Misericórdia é um templo com remanescências maneiristas e barrocas, resultantes das obras do século XVIII. Foi classificada como Monumento de Interesse Público em 2015. É o espaço Leiriense com maior número de referências (18), ao longo de todo o romance.

«(…) e das paredes da Misericórdia saía constantemente o agudo piar das corujas» in o Crime do Padre Amaro.

A Rua dos Arcos da Misericórdia apresentava dois arcos e devem ter sido estes que Eça de Queirós conheceu.

«Ao outro dia, cedo, Amélia vinha da rua da Misericórdia para a Praça, quando, ao pé do Arco, João Eduardo lhe saiu de emboscada.» in o Crime do Padre Amaro.

Igreja Misericórdia – Câmara Municipal Leiria

# 3. Travessa da Tipografia

Aqui pode observar-se uma placa comemorativa do centenário da estada de Eça de Queirós em Leiria. A lápide, com a esfinge do escritor, encontra-se na fachada do edifício da antiga pensão onde viveu enquanto Administrador do Concelho.


«- E aqui tem você o seu palácio! – disse o cónego, batendo na aldraba de uma porta esguia.» in o Crime do Padre Amaro.


«No primeiro andar duas varandas de ferro, de aspeto antigo, faziam saliência, com os seus arbustos de alecrim, que se arredondavam aos cantos em caixas de madeira; as janelas de cima, pequeninas, eram de peitoril; e a parede, pelas suas irregularidades, fazia lembrar uma lata amolgada.» in o Crime do Padre Amaro.

Travessa da Tipografia – Câmara Municipal Leiria


# 4. Largo da Sé

Construída em 1559 na sequência da criação da diocese de Leiria, esta imponente catedral maneirista apresenta, no seu interior, planta em cruz latina e é composta por três naves e cabeceira tripartida. A Torre Sineira, construída na zona das Portas do Sol (a Sul) da vila muralhada, encontra-se separada da Sé. O edifício foi objeto de classificação como monumento nacional em 2014.


«Depois os dois padres observavam maliciosamente a janela da administração, de vidraças abertas, onde se via, no escuro, o vulto do senhor administrador de binóculo cravado para a casa do Teles alfaiate. E desceram enfim a escadaria da Sé, rindo de ombro a ombro, divertidos com aquela paixão que escandalizava Leiria.»
«(…) O que a assustava [Amélia] era o largo da Sé, sobre o qual a Amparo da botica, costurando por detrás da janela, exercia uma vigilância incessante. Fazia-se então pequenina no seu mantelete, e abaixando o guarda-sol sobre o rosto, entrava enfim na Sé, sempre com o pé direito.»
, in o Crime do Padre Amaro.

Largo da Sé – Câmara Municipal Leiria

Casa Criativa da Música – Câmara Municipal Leiria

# 5. Torre Sineira


De estilo barroco, foi construída logo após o terramoto de 1755 sobre uma das antigas torres medievais das Portas do Sol, que marcavam a entrada na antiga vila medieval e permitiam a entrada ao castelo. Foi edificada afastada da Sé com o propósito de fazer ouvir os seus sinos na freguesia mais afastada, o Arrabalde.
Ao lado, foi construída a Casa do Sineiro onde no romance acontecem os encontros amorosos das duas personagens principais, em total sigilo e com o pretexto de uma visita caridosa a uma paralítica. No livro a Casa do Sineiro não se encontra separada da Sé.

«Encontravam-se todas as semanas, ora uma ora duas vezes, de modo que as suas visitas caridosas à paralítica perfizessem ao fim do mês o número simbólico de sete (…). Na véspera, o padre Amaro tinha prevenido o tio Esguelhas, que deixava a porta da rua apenas cerrada, depois de ter varrido toda a casa e preparado o quarto para a prática do senhor pároco.»
«Mas se ao entrar em casa do sineiro, o não encontrava, ia logo, sem se deter ao pá da cama da Totó, postar-se à janela da cozinha, vigiando a porta maciça da sacristia de que ela conhecia uma por uma as chapas negras de ferro»
, in o Crime do Padre Amaro.

Torre Sineira – Câmara Municipal Leiria

# 6. Miradouro Ernesto Korrodi


A partir deste ponto, é possível desfrutar de uma magnífica vista sobre a cidade, onde o viajante pode observar outros espaços, como a Igreja da Nossa Senhora da Encarnação e o Marachão.

«Falaram das lindas paisagens de Leiria, das boas vistas: a Sr.ª D. Josefa gostava muito do passeio ao pé do rio; até já ouvira dizer que nem em Lisboa havia cousa assim. D. Joaquina Gansoso preferia a Igreja da Encarnação, no alto.», in o Crime do Padre Amaro.

Rota d’O Crime do Padre Amaro

Rota d’O Crime do Padre Amaro

Este roteiro, que pode ser feito em família, com amigos ou simplesmente de forma individual, oferece a possibilidade de fazer uma refeição inspirada na literatura de Eça de Queirós.

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(Artigo em permanente atualização. Agradecemos todos os contributos ou sugestões para: comunicacao@turismodocentro.pt)