Leonardo da Vinci tinha manuscritos onde apontava um pouco de tudo. Esboços de invenções, fragmentos dos sonhos, os seus pensamentos e observações. Algures numa dessas páginas amareladas e encadernadas a couro, há uma pergunta que já sobrevive há cinco séculos: “Sabias que a alma é composta por harmonia?”.

Não sabemos a quem ele dirigiu a questão. Se a si mesmo, num momento de introspeção; se à própria humanidade. Mas sabemos que, quando passeamos na natureza e nos deixamos envolver pelas suas sonoridades harmoniosas, os nossos sentidos, a nossa disposição e a nossa alma parecem rejuvenescer.

E sabemos, definitivamente, que o nosso Centro de Portugal é a melhor casa de concertos para usufruir dessa música sublime. O som relaxante das ondas nas nossas praias, o cântico dos pássaros nas nossas matas e florestas, o som cadenciado da água a escorrer nas nossas cascatas.

Deixamos aqui uma amostra da nossa imensa partitura.
Aproveite! O bilhete para o espetáculo é gratuito!

Melodias & Harmonias do Mar

A nossa costa está recheada de praias com areais imensos, onde pode sentar-se e contemplar o mar com total tranquilidade, seja qual for a estação do ano. Enrolado(a) numa manta, com um termo de café a fumegar nas mãos, a escutar a força e o vigor das ondas invernais; a sentir no rosto os primeiros raios quentes de um sol de Primavera que trazem consigo uma doce promessa de verão; a ouvir e a sentir o movimento das ondas com meio corpo dentro do mar, no verão; a escutar o som morno do mar durante um sereno entardecer outonal.

Entre as regiões de Aveiro, Coimbra, Leiria e Oeste, tem muito por onde escolher. Diversidade e qualidade. Sabia que é na Região Centro é que existem mais praias classificadas com “Qualidade de Ouro” pela associação ambientalista Quercus?

Na Praia da Barra (Região de Aveiro), suba ao mais alto farol de Portugal (e um dos maiores da Europa) e deixe que essa vista incrível se misture com o som do mar. Cá em baixo, prove uma das tradicionais Tripas de Aveiro e queime essas doces calorias com uma longa caminhada no paredão.



Caminhe também com os pés descalços na areia. Na Praia do Samouco (Região de Leiria) – também conhecida por Praia do Olho do Samouco – tem um areal imenso, com cerca de 5,5 quilómetros de extensão, cheio de dunas e paisagem natural. 

Sente-se no areal tranquilo da Praia de Quiaios (Região de Coimbra), com o mar pela frente e a paisagem verde da Serra da Boa Viagem pelas costas; ou então no areal da Foz do Arelho (Oeste), com metade da areia banhada pela Lagoa de Óbidos e a outra metade pelo oceano Atlântico.

Melodias & Harmonias dos pássaros nas florestas

Com um território recheado de natureza, onde abundam os bosques, matas, florestas e montanhas, o Centro de Portugal é, com alguma naturalidade, um espaço privilegiado para a atividade de birdwatching (observação de aves). Munido de binóculos ou de uma máquina fotográfica com teleobjetiva, aventure-se e conseguirá, seguramente, avistamentos e registos memoráveis. No entanto, se apenas quiser usufruir do sempre aprazível cântico dos pássaros, é nesses palcos de birdwatching que irá escutar as mais diversas melodias.

Já que falámos atrás de praias, saiba que pode conciliar estes dois mundos no Centro de Portugal. Na Reserva Natural das Dunas de São Jacinto (Região de Aveiro), pode calcar areia do mar enquanto passeia numa mata repleta de espécies de aves, como o chapim-real, o guincho, a negrinha, o pato-marinho, o gavião-da-Europa e o açor.

Consegue imaginar essa variedade de sonoridades em som surround, a envolver cada um dos seus passos? Quando alcançar a praia, vai descobrir ainda mais cânticos, como o das cotovias, das garças, dos gansos-patola, das andorinhas-do-mar, dos corvos marinhos ou dos papagaios-do-mar.
Já que está na região, pode também visitar a Ria de Aveiro, outro local privilegiado para a prática de birdwatching e até aventurar-se num passeio de barco pelos seus canais.

Se quiser manter o ambiente aquático, vá até Mangualde (Viseu Dão-Lafões), mais concretamente à Barragem de Fagilde, onde poderá sentar-se num cais rústico de madeira a observar aquelas águas tranquilas rodeadas por árvores, enquanto escuta cânticos de aves como o pato-real, o corvo-marinho, a garça-real, o mergulhão-pequeno, o mergulhão-de-crista, o maçarico-das-rochas e o guarda-rios.

Ou então, desça até à Beira Baixa, ao Tejo Internacional, essa fronteira líquida entre Portugal e Espanha que foi declarada reserva da biosfera transfronteiriça pela UNESCO e é um dos locais mais emblemáticos para birdwatching no país, com 154 espécies de aves. Seja num passeio de barco ou a percorrer um dos seus muitos percursos pedestres, para além de paisagens avassaladoras, arrisca-se a deparar com aves muito raras, como a cegonha-preta, o abutre-preto, a águia imperial-ibérica e a toutinegra-real.

Enquanto percorre os vales e desfiladeiros da Serra de Sicó (Região de Coimbra/Leiria), poderá avistar um bufo-real (é difícil porque tem hábitos noturnos) ou então ouvir um pardal-francês. O encanto auditivo será acompanhado pelo visual, perante paisagens memoráveis como o Canhão do Vale do Poio, as Buracas de Casmilo ou as dolinas junto ao vale do Monte do Ouro.  

Na Serra de Aire (Região de Leiria), as sonoridades aumentam de volume. Há uma grande quantidade de espécies de aves no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, incluindo várias águias (Bonelli, cobreira, calçada, asa redonda), gaviões, ógeas e a rara gralha-de-bico-vermelho, sendo esta serra o seu principal núcleo nidificante na Região Centro. Face à grande quantidade de cavernas na região, não se admire se avistar algumas espécies de morcegos, como o morcego-de-peluche, o morcego-de-ferradura-mediterrânico e o morcego-lanudo (é o único local de reprodução desta espécie no país).

Se descer a sudeste, no Médio Tejo, ao visitar a Reserva Natural do Paul do Boquilobo, vai entrar num autêntico santuário ornitológico de reconhecida importância internacional (foram observadas cerca de 220 espécies de aves) e integrado na rede mundial de Reservas da Bioesfera da UNESCO. Para além da existência de imensas espécies incomuns, como a garça-vermelha, a águia-pesqueira, o pica-pau-malhado-pequeno, o pelicano-branco, a garça-dos-recifes e o zarro-de-calor, é nesta reserva que se encontra a maior colónia de garças da Península Ibérica. Consegue imaginar a diversidade de sonoridades que vai encontrar aqui?

A nordeste, na região das Beiras e Serra da Estrela, tem também outra magnífica sala de concertos ornitológicos, a Reserva da Faia Brava, uma área protegida no Vale do Côa com cerca de 214 hectares de significativa biodiversidade, onde abundam espécies escassas em Portugal, como o abutre-do-egipto e a águia-de-bonelli. Poderá avistá-los ao percorrer a Grande Rota do Vale do Coa, onde lhe esperam sonoridades únicas da natureza.

Melodias & Harmonias das cascatas

Num dos seus poemas, o poeta americano Jack Gilbert conta uma história sobre cascatas. Estava a passear nas montanhas do Japão com um amigo japonês, quando começou a ouvir, primeiro à distância e depois cada vez mais próximo a cada passo no trilho de terra, o som relaxante de água a escorrer numa queda-de-água. O amigo percecionou-lhe o entusiasmo e perguntou-lhe: “Sabes qual é o som de uma cascata?”. Antes que Jack pudesse responder, disse-lhe: “É o som do silêncio”.

Apesar da visão de uma cascata despertar, quase sempre, sensações de encanto e de deslumbramento, há cada vez mais pessoas que as procuram, simplesmente, pelo som relaxante do fluir da água. São um cenário perfeito para meditar, para momentos de relaxamento, inspiração ou introspeção.

No Centro de Portugal tem imensas e variadas cascatas para visitar. Algumas onde o som da água é mais vigoroso e outras onde é mais tranquilo e apaziguante. Aqui ficam algumas sugestões.

Começamos na Cascata da Cabreia (Região de Aveiro), onde a água escorre 25 metros entre vegetação luxuriante e se precipita numa piscina natural. Sente-se numa rocha e deixe escorrer também o tempo em contemplação.

Na região de Viseu Dão-Lafões, tem a cascata da Pantanha (Nelas), onde a água contorna pedras revestidas de verde, e as do Poço da Barreira e do Poço Negro (ambas em São Pedro do Sul), onde os fios de água borbulham em lagoas verde-esmeralda.

Na Região de Coimbra, em plena Serra do Açor, tem a Fraga da Pena, uma queda-de-água de 20 metros num cenário paradisíaco. Também rodeada por natureza, tem a Cascata da Pedra da Ferida, na Serra do Espinhal, em Penela, que pode acompanhar ao longo de um bonito trilho pedestre (PR2 PNL – Cascata da Pedra da Ferida). A título de curiosidade, o nome peculiar dessa cascata deve-se ao seu leito rochoso que, por ser rico em ferro, ganha uma coloração avermelhada em contacto com o oxigénio da água.

Na Região de Leiria, visite as Fragas de Fragas São Simão, em Figueiró dos Vinhos, por onde escoa água límpida da ribeira de Alge. Ou a Cascata da Fórnea, em Porto de Mós, que impressiona não pela sua altura, mas pela largura. Se tiver curiosidade, ao lado da cascata passa um trilho que leva à Gruta da Velha, onde pode observar a nascente destas águas. Também nesta região, perto da Vila de Maceira, há um vale ao qual chamam “Trilho da Amazónia”. Vá lá e descubra porquê.  

No Oeste, viaje até à Lourinhã e usufrua de uma tarde inteira no Parque da Fonte Lima, entre o verde do campo e o som bucólico das cascatas ou repuxos nas lagoas.

Já com a bússola apontada a este, no Médio Tejo, tem até um percurso pedestre inteiramente dedicado a quedas-de-água, o Trilho das Cascatas, em Vila de Rei, que se estende por várias ribeiras do concelho e que inclui várias cascatas nos vales rochosos. Também em Vila de Rei, não deixe de visitar a cascata do Penedo Furado, na praia fluvial com o mesmo nome.

Na Beira Baixa, em Oleiros, encontra a Fraga da Água d’Alta, a maior cascata existente no Geopark Naturtejo e em toda a região, com 50 metros de desnível vencidos por uma sucessão de três véus de água que produzem um espetáculo único para o olhar e para os ouvidos. Suba também à aldeia de Vide, em Seia (Beiras e Serra da Estrela), onde tem à sua disposição a Cascata do Poço da Broca, onde vários fios de água se despenham em duas piscinas naturais de água transparente. Para observar, escutar e mergulhar.

Durante a viagem para cada um destes locais, usufrua da nossa playlist. Quando lá chegar, já sabe que a música é outra.

Mantenha o espírito.
O Centro de Portugal continua aqui, à sua espera.