Os 100 concelhos do Centro de Portugal… sim leu bem!… São 100 os concelhos de uma região marcada pela diversidade de povos e culturas que por ela passaram e nela se fixaram.
Do mar à serra, representam incontáveis e incontornáveis motivos para apreciar obras que se transformam nas mãos de hábeis artesãos. Peças de cerâmica, azulejos, cestaria, latoaria, tanoaria, vidros e cristal. Peças saídas dos teares que se metamorfoseiam em mantas, colchas ou tapetes, vimes que constroem cadeiras, cestos, chapéus e outras utilidades, miniaturas que refletem os dias duros da faina no mar, artigos religiosos que contam histórias de aparições divinas.
Há tanto para contar…
Enfim! Escolher uma peça de artesanato que identifique o Centro de Portugal não é tarefa fácil! São verdadeiras obras de arte, ecos de vidas antigas e de tradições ancestrais, para contemplar, escolher e adquirir… Como? Ao som da melhor música que por aqui se toca, canta e dança!
1 | Artes e Ofícios dos Têxteis
A arte de trabalhar o têxtil advém do neolítico e foi persistindo ao longo dos anos, sendo ainda audível o matraquear metódico e inconfundível dos teares que, na sua base ancestral, ainda são utilizados no Centro de Portugal.

“Sou tecedeira com gosto e gosto do meu trabalho…passo a vida a tecer restos de todos os retalhos. Minha infância não foi fácil, agarrada a um tear…quando a teia se embrulhava, eu desatava a chorar. Isto é a realidade daquilo que se passava. Minha mãe que já partiu era a minha farrapeira… quando as canelas choram o que fará a tecedeira?”
Lurdes Gaio, Tecedeira . Reguengo de Fetal – Batalha

Os tapetes e a tapeçaria acompanharam a evolução da tecelagem e ganharam grande relevo em Ourém, Minde, Mira de Aire e Porto de Mós, onde se continua a produzir mantas, carpetes, tapetes e passadeiras com “trapos”, tiras recortadas de roupas usadas ou de desperdícios de tecidos.
Esta arte milenária da tecelagem pode ainda ser encontrada no concelho de Viseu e também em Coimbra, com a Tecelagem de Almalaguês, bem como, no Sardoal, em Tomar, ou em Vila de Rei, onde as artesãs das freguesias da Fundada e do Cidreiro, continuam a produzir colchas, toalhas, naperons, tapetes e mantas de trapos. Também no concelho de Estarreja, as tecedeiras continuam habilidosamente a dominar o tear.
“Como não havia a facilidade que há hoje em arranjar matéria-prima para fazer os tapetes, as pessoas por norma aproveitavam as roupas velhas; lençóis, camisas calças… e depois faziam novelos e levavam aquilo para as tecedeiras fazerem. Antigamente aqui nesta zona havia muita tecedeira.”
João Carreira, Tecedeiro – Porto de Mós

De igual importância são as tapeçarias de lã pura, das zonas serranas, onde encontramos as mais modernas empresas de tecnologia têxtil que, no entanto, ainda produzem manualmente, tal como em Manteigas. E quem não conhece o cobertor de papa, de Maçainhas, concelho da Guarda?
Na Serra da Estrela, através da Rota dos Lanifícios, descubra a identidade de um povo e aprecie a sua história, feita de fios.
Já os bordados e outras artes de agulha são produzidos em muitas partes do Centro de Portugal, sendo uma arte ancestral especialmente enraizada em Castelo Branco, de desenho muito próprio e uma simbologia absolutamente inconfundível. Os motivos genuínos deste bordado a seda sobre linho, apresentam “Árvores da Vida” de uma beleza e riqueza incomparáveis. Com ramos que se elevam ao céu e outros símbolos, são trabalhados por mãos certificadas que apelam à renovação e à fertilidade, com minuciosa habilidade e o contentamento de quem procura o verdadeiro bordado de Castelo Branco. Não acredita? Visite o Centro de Interpretação do Bordado!

“O segredo é nós nascermos com uma vocação e começarmos muito novas. O primeiro bordado que fiz tinha 5 anos e depois à medida que vamos fazendo e que vamos explorando as técnicas e que vamos vendo as possibilidades de diversificar o trabalho torna-se uma paixão.”
Beatriz Martins – Ourém
Em Peniche, apresenta-se a secular arte de trabalhar a renda. A confeção de artigos de renda como peças decorativas e de uso comum, como brincos, gravatas, panos, lenços, podem ser adquiridas e apreciadas ao vivo, na Escola Municipal de Rendas de Bilros de Peniche, que acolhe jovens dos 6 aos 90 anos. Já o Museu da Renda de Bilros de Peniche promove o estudo, a conservação e a valorização deste património cultural.
A confeção de bonecas de pano é uma verdadeira arte decorativa que continua a encantar miúdos e graúdos. Em Monsanto, a aldeia mais típica de Portugal, encontramos as marafonas, as bonecas de pano sem olhos, nariz ou ouvidos. Em Pombal e Abrantes, as bonecas de trapos fazem as delícias de avós e netas. Na Nazaré vestem-se bonecas a preceito com trajes tradicionais e bordam-se magníficos aventais em tamanho natural. Não precisam falar, mexer os olhos ou a boca, basta sorrirem e fazerem sorrir e a magia acontece.

E já alguma vez ouviu falar do “ponto pé de galo” ou do “ponto pé de flor, bordado sobre o linho branco, meio linho ou estopa? Então saiba mais sobre os lindos bordados e tapeçarias de Óbidos!
Ainda no Oeste, em Alcobaça, a colorida Chita é arte. Tecido de algodão estampado, trazido da Índia para a Europa pelos portugueses em meados do século XVIII, para decoração ou vestuário. Nas mãos das habilidosas artesãs locais, estes tecidos ganham vida e podem ser encontradas em qualquer loja do comércio local, em adereços de decoração ou em peças de vestuário.
2 | Artes e Ofícios da Cerâmica e Olaria
A cerâmica e a olaria têm profundas tradições na região, mas comecemos pelo barro preto que ao longo dos séculos se instalou em Vila Nova de Poiares. Utilizado como utensílios de cozinha ou somente como peça decorativa, o barro preto caracteriza-se pela sua cor, em que o preto substitui o vermelho do barro. O barro preto está intimamente ligado à maior marca de Vila Nova de Poiares: a “Chanfana”, confecionada nos tradicionais caçoilos de barro preto de Olho Marinho, criando aqui a simbiose perfeita entre a gastronomia e o artesanato. Esta tradição secular é ainda muito presente também em Molelos, Tondela. Para além do barro preto ainda existe o barro vermelho, com maior expressão em Miranda do Corvo.
“Em termos de matéria prima, antigamente era tudo um bocado a olho, era 100kg disto, mais 80kg do outro, mais 20kg de outro e mandava-se uma pessoa para dentro do tanque amassar o barro com os pés e com as mãos e passados 2 ou 3 horas tinha de estar pronto para começar a fazer.”
Fernando Correia – LBP Barro Preto, Vila Nova de Poiares

É no Centro de Portugal que encontramos a mais antiga referência de olaria do país. Na Bajouca, concelho de Leiria, a olaria ainda representa uma parte significativa da economia local. “O segredo está nas mãos”, dizem os artesãos locais enquanto amassam e pressionam o barro na roda.
Também é de referenciar e apreciar a olaria de Argea, no concelho de Torres Novas.
Alcobaça e as suas influências conventuais promoveram o aparecimento de muitas oficinas onde se trabalhava a argila, de forma manual. Os monges barristas, no Mosteiro de Alcobaça, terão executado esculturas em terracota, no auge do período barroco, o que mais tarde, com outros materiais compostos, resultaram em pastas cerâmicas de cores, densidades e plasticidades diferentes. Deram origem a esta tão afamada louça de Alcobaça, ainda tão atual, com cor mais clara que o habitual, e decoração simples. Esta arte está ainda presente em Condeixa-a-Nova e Coimbra, um dos mais antigos e importantes centros de produção oleira do país, existindo uma rede de produção organizada desde o século XVI.
“O barro é extraído do barreiro aqui da zona. Nós tiramo-lo do barreiro para ficar um ano ou dois ao tempo: para apanhar o calor e a chuva, para sair um bocadinho da goma. O nosso barro aqui tem muito esta goma. Pomos aqui o barro, juntamos um pouco de água e com um pouco de jeito fazemos umas peças. Espetacular, acho que é uma palavra que está dentro desta arte.”
Alcino Pedrosa, Bajouca, em Leiria.

Também na Cidade Criativa do Artesanato e Artes Populares (2019), Caldas da Rainha, a cerâmica figurativa ganha magnitude além-fronteiras. Aqui existem algumas das fábricas de cerâmica mais prestigiadas do país, onde produzem as míticas Faianças do Bordallo Pinheiro, vegetalistas e de carácter decorativo, onde a pintura cerâmica ganha expressão. Juntamente com o Museu Raul da Bernarda, em Alcobaça, dão nome à prestigiada Rota da Cerâmica do Oeste.
Grande destaque vai também para a cerâmica de Coimbra, um dos mais antigos e importantes centros de produção oleira do país, existindo uma rede de produção organizada desde o século XVI, mas com registos que remontam a 1145.
Quando falamos em porcelana e louça, é imperativo apreciar e referenciar as porcelanas da Vista Alegre, em Ílhavo, onde ainda integra no mesmo edifício a oficina de pintura manual das peças de arte.
A azulejaria, uma arte com mais de 500 anos de história directamente associada aos muçulmanos e, no Centro de Portugal, é na Região de Leiria e na Ria de Aveiro que encontra esta belíssima arte decorativa no seu esplendor. Popularizada no barroco, onde se decoravam fachadas de edifícios, assume hoje um papel importante no nosso dia-a-dia. A Fábrica do Juncal, em Porto de Mós, famosa pelas suas cerâmicas foi a responsável pela produção dos painéis de azulejos figurativos que decoraram a Sala dos Reis do Mosteiros de Alcobaça, num importante simbiose entre a história da olaria e cerâmica em território nacional. Mais a norte, em Ovar, cidade Museu Vivo do Azulejo, os azulejos são um bem patrimonial e um elemento diferenciador que marca a imagem e a história da cidade. Ainda na Região de Aveiro, a Fábrica de azulejos fundada por João Aleluia, agora renomeada de Cerâmicas Aleluia, comprova a importância do fabrico de azulejaria na região.
3 | Artes e Ofícios de Trabalhar a Madeira
Os saberes que materializam a relação dos homens com o mar está bem patente e representado nas miniaturas dos barcos em meia-lua da Praia da Vieira, e Leiria ou da Nazaré. Estes mini barcos de madeira são maioritariamente executados por antigos pescadores que relembram os seus dias de faina no mar.
Em Aveiro, falamos de barcos à escala real. O Sr. Esteves, o mais antigo carpinteiro naval da Ria de Aveiro desde pequeno que trabalha na arte de construção de embarcações tradicionais de madeira. Hoje, com o seu estaleiro aberto, o Mestre tenta transmitir os seus conhecimentos adquiridos à geração atual para que a arte de construção do moliceiro tradicional permaneça viva.
Terra profundamente ligada aos rios e ao transporte fluvial, Constância vê nas miniaturas de barcos a memória do tempo dos seus varinos. Dessa altura surgem também as bonequinhas que as mulheres dos marítimos confecionavam, aproveitando o tempo e restos de tecido, para depois venderem e minorarem as suas carências.
Também em Vila Nova da Barquinha, Mação e Ferreira do Zêzere, são conhecidas as miniaturas em madeira do tradicional barco típico da pesca do Rio Tejo , a “bateira”.

Quem não tem uma colher de pau nos seus utensílios de cozinha? A famosa Colher de Pau é atualmente uma peça de artesanato de Arganil, onde as peças são talhadas manualmente em madeira de pinho bravo em estado verde, pelos “colhereiros” e constituem-se como o artesanato mais genuíno do concelho. O artesanato de Penacova é marcado pela produção artesanal de Palitos.
“É uma arte bonita para quem tem gosto. As máquinas não fazem tudo. É pena que esta arte esteja a esmorecer. Chegaram as cubas de inox, mas não há nada que chegue à madeira para envelhecer o vinho”.
José da Silva “Galante” – Tanoeiro de Esmoriz
Outra das artes de trabalhar a madeira é a Tanoaria, arte muito comum das regiões ribeirinhas e ligadas à produção vitivinícola, que consiste no fabrico de vasilhames em madeira para o armazenamento do vinho. Esta arte ancestral, ainda viva em Cantanhede, Ovar e Esmoriz, e passa de geração em geração, resistindo ao tempo e à evolução.
“Mais meia dúzia de anos e a tanoaria vai ficar forte porque as pessoas vão querer a qualidade. Não há nada como a madeira para envelhecer o vinho”.
Ilídio Ferreira – Tanoeiro de Maceda
4 | Artes e Ofícios de produzir e trabalhar o Cristal e o Vidro
O fino toque do Cristal, encanta-nos.
Alcobaça e Marinha Grande são, indubitavelmente, os marcos desta arte de trabalhar o Cristal e o Vidro. Na Marinha Grande, local de importante referência nacional na produção de vidro de forma artesanal, é ainda possível ver ao vivo os artesãos a trabalhar manualmente o vidro. É no Museu do Vidro que constam obras dos grandes nomes da produção vidreira nacional. Em Alcobaça, devido à proximidade com a Marinha Grande e da sua forte tradição vidreira, aqui se desenvolveu o Cristal como uma das suas artes por excelência. Aqui, a elegância e imaginação, é arte.

“Não recorremos a moldes. Fazemo-las inteiramente modeladas com as mãos. Seguimos desenhos ou a nossa imaginação e trabalhamos o vidro a 1.100 graus, com a utilização de diversas cores”. Alfredo Poeiras, Mestre Vidreiro há 55 anos, Marinha Grande.
5 | Artes e Ofícios de Trabalhar Elementos Vegetais
O aproveitamento de fibras vegetais entrelaçadas para o fabrico de utensílios domésticos manifesta clara tradição no Centro de Portugal. Se antigamente se destinavam à colheita, transporte e conservação de bens, ou até ao calçado, atualmente a cestaria é frequente utilizar-se para fabricar alcofas e cestos, para decoração e para uso pessoal. Esta arte manual é de extrema perícia onde a imaginação conta e muito! Para além de trabalhar o vime, a arte da cestaria pode ainda estar relacionada com o empalhamento e a cordoaria, com o uso da palha, o junco e outras fibras de origem vegetal.

“Foram os pastores do gado, dos rebanhos, é que começaram a fazer isto, porque não tinham calçado, andavam descalços e faziam umas coisas para calçar com isto e umas coisas, chamam-lhe as figas, para mandar as pedras. Dizem, dizem, só que eu isso não me lembro.” Alzira Pereira – Pombal
No concelho de Pombal, na Ilha, assiste-se a uma revitalização da arte, com particular destaque para as esteiras de esparto, construídas segundo uma técnica de entrançado, e com bonitos efeitos decorativos. O engenho de artesãos marinhenses exprime-se, ainda, no empalhamento de garrafas e garrafões.

Na região, podemos adquirir estas peças de artesanato, cada uma à sua maneira. A cestaria de Proença-a-Nova, as peças de Bracejo, em Sortelha e o junço de Beselga, em Penedono são únicas e feitas com matérias-primas genuínas e locais. Inevitável será mencionar a cestaria de Gonçalo, terra de artistas com arte do concelho da Guarda. No Fundão, os cesteiros de Alcongosta ainda mantêm viva esta arte, pois é nestas famosas cestas que se transportam as melhores cerejas de Portugal.
Na verdade, a arte do empalhamento em junco, vime, ráfia, feno, bunho ou palha está muito enraizada por toda a região.
6 | Artes e Ofícios de Trabalhar o Metal
A arte de trabalhar o metal assumiu um papel revolucionário na atualidade. A necessidade de armazenar líquidos e produtos secos promoveu a produção da latoaria. Atualmente é uma arte que persiste naqueles que teimam em ensinar o ofício e se recusam a abandonar os alicates de pontas chatas e redondas, a bigorna, o compasso de bicos e o ferro de soldar.

A latoaria, muito utilizada sobretudo no fabrico artesanal do queijo ou das vasilhas para guardar e transportar o azeite e o vinho, pode ser encontrada nos concelhos da Batalha, Leiria, Pombal, Ourém, Tomar e Alcanena. Também em Ílhavo e na Sertã, ainda é produzida de forma tradicional.
7 | Artes e Ofícios de Trabalhar o Ferro
A curiosidade pela arte de trabalhar o ferro tem feito surgir nas últimas décadas, um crescente número de produtores artesanais de cutelaria. Tal como em qualquer peça de arte, na cutelaria, a produção artesanal, ainda que reduzida, é um artigo de luxo, único e nobre. Para todo o cuteleiro, “a máquina não apresenta a qualidade e a meticulosidade que o artesão dedica”.
Na nossa região, a cutelaria artesanal pode ser encontrada no Fundão, especialmente pelas mãos de Telmo Roque.
“O maior clique para chegar aqui a este ramo foi a noção de que o passar de uma ideia à prática só precisa mesmo de se saber escolher os parafusos, contrariando a ideia que ensinam na universidade de que os engenheiros escolhem os parafusos e os designers não e que tinha de arranjar alguém que me escolhesse os parafusos e me tornasse real o meu design, para fazê-lo acontecer”.
Telmo Roque, Cuteleiro – Fundão
No concelho da Guarda, nomeadamente no Verdugal, as facas são um excelente cartão de visita. O trabalho manual ali produzido, em várias oficinas, faz deste concelho um dos melhores exemplos de produção de cutelaria artesanal nacional. Um pouco mais a sul, a cutelaria ainda tem expressão na Região de Leiria e na Região Oeste.
8 | Artes e Ofícios de Trabalhar a Pedra
É obrigatório referir a mestria com que os canteiros da Batalha talham novas obras e restauram o nosso património, dominando a arte da Cantaria. Em Cantanhede também esta é uma arte que persiste. Impossível é não destacar os canteiros de Alcains, em Castelo Branco, e seu museu dedicado aos artesãos da arte da cantaria, bem como, as pedreiras e trabalhos em pedra, no concelho de Pinhel.
“O que a cantaria tem de especial é a beleza, realmente, que nós conseguimos dar à pedra. Portanto, conseguimos transformar… um canteiro consegue transformar a pedra, um bloco grosseiro e dar-lhe a beleza que temos por exemplo no mosteiro da batalha que são rendilhados lindíssimos, trabalhos lindíssimos de ornamentação. Os elementos que realmente simbolizam o canteiro, existem muitos elementos no mosteiro da batalha e um que existe lá é um caracol portanto aquilo é mesmo… não podemos fazer aquilo muito depressa tem que ser com muita persistência e cuidadinho. Portanto, não é possível fazer um trabalho a grande velocidade, é um trabalho que exige muito rigor. É preciso gostar, muitas vezes conseguimos estar de volta de uma peça durante um mês.”
António José – Batalha

A arte de calcetaria é uma arte genuinamente portuguesa, e a construção e decoração de passeios através de ferramentas manuais e técnicas tradicionais é uma verdadeira arte, apenas ao alcance de alguns. A arte de pavimentação das ruas em pedra calcária ou basalto é famosa na região de Leiria, pelos calceteiros de Alqueidão da Serra, concelho de Porto de Mós.
9 | Artes e Ofícios de Trabalhar o Calçado
A tamancaria é uma arte proveniente de Cantanhede, onde ainda se faz de forma manual. Utilizando diversos tipos de madeira, os tamancos são definidos pelo nome, consoante as suas características: o Rabelo, o Poveiro, a Chanca para os senhores; a soca, a varina e o papo-seco, para as senhoras.
A produção de tamancos também chegou a dar emprego a grande parte da população de Alverca da Beira, em Pinhel.

10 | Artes e Ofícios de Trabalhar a Pele
Uma das indústrias de maior relevo no concelho de Alcanena são os curtumes, razão pela qual o concelho é designado de “Capital da Pele”. Muitas são as empresas que se destacam neste setor, considerado uma arte no que diz respeito ao tratamento e acabamento de peles, para a produção muitas vezes artesanal, de artigos vários em pele e marroquinaria. É aqui que se localiza o CTIC – Centro Tecnológico das Indústrias do Couro, que dá a conhecer a investigação realizada na área dos curtumes e as principais características destes materiais.

Teimosamente resistindo à era das máquinas, o artesanato vive!
Nalguns casos, tem vindo a traduzir-se numa nova dinâmica, em resposta a novas necessidades e solicitações, acompanhando o evoluir das mentalidades, gostos e valores estéticos. Mãos hábeis e laboriosas aliam um saber-fazer tradicional, à competência, mestria, criatividade e sentido estético individual, para transformar matérias-primas em objetos com a inconfundível marca do seu autor. Deste modo, as peças artesanais, autênticas obras de arte, passam de geração em geração, a essência de um povo secular que o distingue de um todo: o povo do Centro de Portugal!