Um milhão de estórias gastronómicas
Um milhão de estórias gastronómicas é o lema da Região de Coimbra: Região Europeia de Gastronomia 2021/2022 com estórias ligadas à alimentação e à Gastronomia em Coimbra que nos dão os ingredientes para cozinharmos uma excelente receita turística, que liga o território aos seus sabores e receitas.
A gastronomia surge aqui como elemento agregador. Mais do que a perspetiva de alimento, falamos de património, comensalidade, tradição, cultura e, acima de tudo, de pessoas que contam estórias e criam memórias que enriquecem a experiência gastronómica.
No website “Taste Coimbra Region”, poderá encontrar mais informações sobre o projeto, assim como informação sobre os produtos gastronómicos, restaurantes, receituário, visitas e experiências e produtores. Foi nele que nos inspirámos para criar este roteiro de 3 noites e 4 dias. Sempre, com a perspetiva de o inspirar para outras experiências, outras aventuras…!
Nesta proposta, poderá encontrar a possibilidade de vivenciar centros urbanos, de usufruir do descanso do mundo rural, de degustar a melhor gastronomia e vinhos, sem perder de vista as grandes rotas de património natural.
1.º Dia
Arte Xávega
O nosso roteiro inicia-se na Praia de Mira, bem cedo, testemunhando a Arte Xávega, pesca artesanal feita com rede de cerco. Antigamente a recolha da rede era feita com a ajuda de juntas de bois e força braçal; atualmente, é feita por tração mecânica, com recurso a tratores. Na Região é possível encontrar ainda esta tradição nos concelhos de Mira, Cantanhede e Figueira da Foz.
Peixe
Para uma verdadeira experiência de peixe fresco, poderá encontrar uma grande diversidade de restaurantes na Praia de Mira – a única zona balnear do Mundo com Bandeira Azul desde 1987. Sendo difícil escolher, a nossa sugestão neste roteiro, vai para o “Restaurante “Salgáboca“, que tem como especialidade o peixe fresco. Deixe-se guiar pelas recomendações do João Maranhão e do Luís Patrão, co-fundadores do espaço!
2.º Dia
Palheiros de Mira I Museu e Posto de Turismo
O “Palheiros de Mira”, espaço que funciona como museu e posto e turismo, é um local onde podemos descobrir as estórias, tradições e culturas dos Homens e Mulheres que fizeram deste território a sua casa. Bem junto à Barrinha da Praia de Mira, é um local de interpretação do passado, que facilita uma experiência sensorial e permite viajar pela história de uma comunidade dividida entre o Mar e a Terra. Aqui, podemos descobrir as artes tradicionais de outrora e a sua ligação com o território (Arte Xávega), a construção tradicional dos palheiros, e as vivências de uma comunidade dividida entre a Terra e o Mar.
Produção do Bolo de Ançã I Cantanhede
No concelho vizinho, em Cantanhede, na Freguesia de Ançã, convidamo-lo a visitar um dos locais onde se produz o Bolo de Ançã. Mas antes, garanta a possibilidade de assistir e participar na sua confeção, através das mãos sábias de boleiras e boleiros experientes, herdeiros desta cultura ancestral – como é o caso do Eliseu Henriques, um jovem boleiro que domina esta arte como ninguém.
O bolo de Ançã tem como base um processo artesanal de fabrico, sendo amassado manualmente e cozido em forno de lenha. Este fabrico tradicional, mantido durante gerações de boleiros, tornou-o num produto típico. A sua origem é imemorial e o segredo da sua confeção, é transmitido de pais para filhos, tornando cada um quase irrepetível. Convidamo-lo a “pôr as mãos na massa”, sob o olhar atento destes guardiães tão especiais! Garantimos que será como regressar a casa dos seus avós!
Vinhos
Na Região de Coimbra, gastronomia e vinhos são indissociáveis. É uma região com excelentes exemplos de Enoturismo, que abrem as suas portas a quem os visita. É imperdível uma caminhada entre vinhas e as provas em quintas e adegas, que poderá consultar no portal da Rota da Bairrada, onde encontra um guia de Enoturismo feito à sua medida.
Propomos-lhe uma visita às Caves Messias, na Quinta do Valdoeiro, uma das mais belas e bem estruturadas propriedades agrícolas da região da Bairrada. Situa-se na freguesia da Vacariça, concelho de Mealhada. Esta Quinta pertence à Família Messias, desde os anos 40, tendo sido adquirida aos herdeiros do Visconde do Valdoeiro. A partir de 1985, a Messias levou a cabo a reconversão gradual dos vinhedos da Quinta do Valdoeiro. As suas plantações mais recentes, realizadas em 1997, procuram dar resposta às mais fortes tendências do mercado, privilegiando uma casta genuinamente portuguesa e uma outra estrangeira: a Touriga Nacional e a fabulosa Syrah.
Garantimos que é uma experiência única, capaz de fidelizar até quem (ainda) não é apreciador de vinhos! Marque já a sua visita guiada às Caves Messias, conduzida por Margarida Valente, uma das herdeiras da família.
Leitão da Bairrada
Ainda na Mealhada, e porque a fome já aperta, rumamos ao restaurante “Rei dos Leitões“, um dos mais galardoados e reconhecidos restaurantes nacionais. Aqui, podemos encontrar o famoso Leitão, uma das marcas fortes da região, reconhecida dentro e fora de fronteiras. Normalmente, recheado com banha, pimenta preta e alho, o Leitão é fechado com «fio do norte». Assado em forno a lenha, é cortado em pedaços quentes e servidos com batata cozida, laranja e alface fresca. Para acompanhar, e numa harmonização perfeita, um Espumante da Bairrada!
No “Rei dos Leitões” poderá encontrar um conjunto de pratos típicos da região, nomeadamente, o Leitão da Bairrada, o Pão da Mealhada, a Cabidela de Leitão, as iscas de fígado e os ovos moles. Mas o que o diferencia de outros restaurantes deste território é a excelência que apresenta em outros pratos, que não associamos de imediato à Bairrada. Como exemplo, recomendamos vivamente uma sopa de santola no início da refeição!
Pastel de Tentúgal
Em Montemor-o-Velho, na freguesia de Tentúgal, fica a Pastelaria “Afonso”, que, consciente da responsabilidade da preservação do legado doceiro carmelita, promove desde 1970 a tradição do Pastel de Tentúgal. Esta é uma arte em que a sua fundadora, Natália Cavaleiro, se iniciou aos 12 anos, em 1956 com uma das dedicadas senhoras que recebeu o segredo das mãos da D. Maria Maximina do Loreto.
A Pastelaria “Afonso” é mais do que um negócio. É, sobretudo, uma família, um local onde se acarinha a ancestralidade, e onde se perpetua a tradição de bem preparar o pastel de Tentúgal. E é uma experiência verdadeiramente única, ver os imensos lençóis de massa branca, esticados e a esvoaçar, sob os olhares atentos, às mãos de mulheres experientes, com delicados mas certos movimentos, que carregam a responsabilidade dos saberes ancestrais. Todo o processo de confeção dos pastéis de Tentúgal, é uma verdadeira obra de arte, onde tudo faz sentido, numa harmonia perfeita.
A Olga Cavaleiro, da família proprietária da “Afonso”, é a pessoa ideal para contar todos os segredos do pastel de Tentúgal – e outros…. Ou não fosse a Olga, Presidente da Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas.
Arroz do Baixo Mondego
Seguindo na direção da foz do Rio Mondego, onde predominam as terras planas na paisagem, sabemos que chegamos aos campos de arroz carolino do Baixo Mondego. Terrenos, que em temos idos, eram alagados com a subida do caudal, adversidade que o povo, mostrando o seu espírito empreendedor e aguerrido, conseguiu tirar proveito. É que estes campos, alagados, revelaram-se férteis para a cultura do arroz. A força do trabalho dos homens e mulheres fizeram com que ali nascesse a tradição da cultura do Arroz Carolino do Baixo Mondego.
Propomos-lhe uma visita à Fábrica Ernesto Morgado e aos campos de arroz carolino do Baixo Mondego. Fundada em 1920, é a mais antiga indústria de descasque, branqueamento e embalamento de arroz em Portugal. Mediante marcação prévia e disponibilidade a Ernesto Morgado possibilita uma visita guiada pelas instalações e uma viagem pela sua atividade passando pelo cultivo de arroz, secagem, descasque, branqueamento e empacotamento de arroz.
Será uma excelente oportunidade de conhecer todo o processo por que passa o arroz, desde que chega às instalações da empresa, vindo dos campos e das eiras do Baixo Mondego, até ao lançamento nos circuitos comerciais.
Sardinha
Seguimos caminho até à Figueira da Foz, onde do mar profundo chegam traineiras carregadas de sardinha. O aspeto fresco, a cor de prata, a elegância corporal, o odor a alga e o ar firme seduzem o olhar dos que a desejam. Aqui, a sardinha é rainha, sobretudo, quando assa sobre brandas brasas e, depois, é servida com broa, batata e salada de pimentos
Poderá provar esta iguaria, em quase todos os restaurantes da Figueira da Foz. A nossa sugestão, neste roteiro, é o restaurante “Marégrafo”. A sua cozinha tradicional e portuguesa oferece-lhe uma enorme seleção de pratos saborosos e frescos.
3.º Dia
Experiência em oficina de olaria de barro preto
Deixando os tesouros do mar, partimos em busca de sabores e aromas da serra. Seguimos, rumo ao interior da Região de Coimbra, em direção a Vila Nova de Poaiares, onde o espera uma experiência imperdível: a visita à oficina de olaria de barro preto de Fernando Correia, com atividade há várias gerações na aldeia de Olho Marinho, Freguesia de São Miguel de Poiares.
Se marcar com antecedência, o Fernando explica-lhe todo o processo de produção da louça de barro preto, desde a mistura de barros necessários, à moldagem, passado pela secagem e cozedura. As peças aqui produzidas são decorativas ou utilitárias, sendo verdadeiramente relevantes na gastronomia local, dado estarem intimamente ligadas ao paladar específico de certos pratos gastronómicos, como é o caso da Chanfana de Vila Nova de Poiares.
Chanfana
E por falar em Chanfana, rumamos a Miranda do Corvo, para perceber como se prepara este que é um dos pratos gastronómicos mais distintivos da Região de Coimbra. Com segredos que derivam de tempos imemoriais, aqui a cabra é protagonista. É totalmente imersa num bom vinho tinto, com alho e untada com azeite, e é prepara-se em forno vivo. De seguida vai à mesa em caçoilo de barro (preto em Vila Nova de Poiares ou vermelho em Miranda do Corvo) acompanhada com batata e grelos.
Como restaurante para degustar esta iguaria, sugerimos o “Museu da Chanfana“. No final, para digerir tão sublime refeição, passeie pelo Parque Biológico da Serra da Lousã, mesmo ao lado do restaurante.
Mel da Serra da Lousã DOP
A Região de Coimbra , mais especificamente a Serra da Lousã, seguiu a apicultura como desígnio gastronómico, dado ter uma flora singular de características endógenas e um clima próprio. Características que, associadas à mestria humana, possibilitam que se extraia deste território um mel com especificidades únicas e apreciado em todo o lado.
Se aprecia turismo de natureza e valoriza o que a serra tem para oferecer, não perca a oportunidade de viver a experiência de ser um apicultor por um dia. A Cooperativa Lousãmel assegura visitas com explicação de todo o processo, assim como, a possibilidade de visitar um apiário. Garantimos que vai passar a olhar para as abelhas de outra forma!
Enchidos
Numa região onde a carne porcina tem sido uma das bases alimentares, os enchidos, ou fumeiro (chouriços, morcelas, linguiças, farinheiras) fazem parte do ideário alimentar.
Estas verdadeiras especialidades são preparadas, na maioria das vezes, pelos pedaços de carne menos nobres do animal e pelo seu sangue, que depois de bem temperadas, servem para encher generosamente as tripas do porco. São depois suspensas em chaminés, onde são fumados, potenciando os sabores e recordando os tempos de outrora. O segredo…? Os temperos, as especiarias e a secagem no fumeiro a lenha.
Se andar pelo concelho de Oliveira do Hospital, saiba que a Associação de Desenvolvimento do Vale do Cobral, na aldeia de Meruge, produz os enchidos ainda de forma artesanal. Com marcação, na época certa, pode assistir ao seu fabrico. Aproveite para visitar a lindíssima aldeia, com a sua surpreendente lage grande bem no centro.
4.º Dia
Passeio Barca Serrana
Já em Penacova, começamos bem cedo o dia, com um passeio de Barca Serrana, embarcação tradicional que durante séculos transportou produtos e pessoas pelo rio Mondego, entre o interior da região e a cidade de Coimbra.
Em boa hora a empresa “Serranas do Mondego” reabilitou esta embarcação, agora para fins turísticos. O percurso tem a duração de cerca de 50 minutos, começando e terminando, na Praia Fluvial do Reconquinho, em Penacova. A bordo é feito o enquadramento histórico da barca e da região e poderá desfrutar de uma merenda tradicional, com produtos típicos da região, como as famosas (e deliciosas!) Nevadas de Penacova. Esta é uma forma de homenagear “os antigos”, contando a sua história num ambiente absolutamente envolvente. A bordo do Tareco (assim se chama uma das barcas), garantimos que viverá uma experiência autêntica e ancestral! Ah! E não se esqueça de perguntar ao barqueiro – ao Miguel Matias ou ao Vítor Seco – o que é um “Tareco”…
Doçaria Conventual
Na região de Coimbra encontramos as iguarias mais doces, criadas em mosteiros e conventos, que acabaram por ser berço de uma doçaria sumptuosa e delicada onde os ovos e os muitos pontos do açúcar são alguns dos elementos comuns. Pastéis de Santa Clara, Sopa Dourada do Convento de Santa Clara, Charcada de Coimbra, Arrufadas de Coimbra, Arroz Doce, Manjar Branco, Barriga de freira, Pudim de Ovos das Clarrissas, Lampreia de Ovos, Pastéis de Tentúgal, Pastéis de Lorvão, Nevadas, Cavacas, Filhoses… São apenas alguns exemplos da boa doçaria coimbrã.
No restaurante Cordel Maneirista, em Coimbra, pelas mãos e experiência do Chef Paulo Queirós, poderá usufruir de um workshop de Doçaria Conventual e desvendar alguns dos seus segredos. Esta atividade centra-se essencialmente na investigação e produção de doçaria conventual e regional, bem como de gastronomia regional, divulgando diversos produtos e produtores regionais que oferecem produção sustentável.
Cerveja Artesanal
A Cervejaria Praxis tem uma história que se liga à da própria cidade de Coimbra. Já em 1855 se encontram referências a uma pequena fábrica de cerveja; e em 1891 surge a alusão a outra fábrica de cervejas e gasosas, instalada em Coimbra. Em 1924 há a transição do fabrico artesanal para a produção industrial. Dez anos depois, deu-se uma nova viragem, com a constituição da Sociedade Central de Cervejas, que se distinguiu pelas emblemáticas marcas que criou, entre elas a Topázio e a Onix. A fábrica acaba por encerrar definitivamente em 2002, ano em que foi constituída a Praxis Cervejas de Coimbra, com produção de cerveja.
A Praxis dedica-se à recuperação da tradição quanto ao fabrico de cerveja em Coimbra, bem como, à investigação, integrando um movimento a nível mundial, que consiste na criação de um grande número de microcervejeiras. As suas cervejas são especiais e de elevada qualidade, como poderão facilmente comprovar numa prova, experiência que recomendamos vivamente, em especial se for conduzida pelo Pedro Batista, CEO da Praxis Beer! Recentemente, uma das suas cervejas – a Imperial Stout – venceu uma medalha de ouro nos World Beer Awards, em Londres, competição que distingue e premeia as melhores cervejas a nível mundial.
Cabrito
Os territórios mais elevados da região de Coimbra, são o habitat perfeito para os cabritos – e a sua sua produção tem sido uma extraordinária forma de manter os montes limpos, numa consciência ecológica que se tornou essencial na prevenção e defesa da floresta. Além dessa função, o cabrito é também uma iguaria gastronómica requintada. Assado no forno, até tostar, bem recheado com gorduras de porco, presunto, alho, serpão, salsa e louro, é uma iguaria a não perder.
Em Condeixa-a-Nova, não faltam as várias (e boas!) opções para experimentar o cabrito. Sugerimos-lhe o restaurante “O Regional do Cabrito”. Além deste produto, oferece outros pratos de forte influência tradicional, como o Lombo Assado no Forno ou a Chanfana. O famoso queijo do Rabaçal é presença obrigatória, seja como entrada ou como sobremesa. Incontornáveis são também as tradicionais escarpiadas, doce tradicional de Condeixa-a-Nova.
Mas como 3 dias não são, – nem de perto, nem de longe – suficientes para conhecer e experimentar todos os produtos gastronómicos da região de Coimbra, deixamos-lhe aqui outras sugestões que, acredite, tem obrigatoriamente de provar!
. Lampreia
. Lampatana
. Queijo
Conheça estas e outras propostas, com o Guia Boa Cama Boa Mesa “Região de Coimbra, Um Milhão de Histórias Gastronómicas”!
Saiba o que diz a Comunicação Social sobre este roteiro!
“Lugares, mãos, rostos: A raia com molho pitéu e os palheiros de Mira I Há gastronomia na região de Coimbra“, in Mutante, 04.10.2021
“Lugares, mãos, rostos: Espumante rima com leitão assado à moda da Bairrada I Há gastronomia na região de Coimbra”, in Mutante, 05.10.2021
“Lugares, mãos, rostos: O barro preto, a cabra velha e o cabrito I Há gastronomia na região de Coimbra”, in Mutante, 06.10.2021
“Lugares, mãos, rostos: Terra do porco, dos enchidos, do queijo e do vinho” I Há gastronomia na região de Coimbra”, in Mutante, 07.10.2021
“Lugares, mãos, rostos: O Arroz do Baixo Mondego e o Mar da Figueira da Foz” I Há gastronomia na região de Coimbra”, in Mutante, 08.10.2021
“Lugares, mãos, rostos: Pausa para um passeio de barco e a praxe da Cerveja” I Há gastronomia na região de Coimbra”, in Mutante, 09.10.2021
“Lugares, mãos, rostos: A tradição anda de mão em mão” I Há Gastronomia na região de Coimbra”, in Mutante, 11.10.2021