Uma jornada ao Centro de Portugal proporciona uma experiência rica em encontros com diversas crenças religiosas, uma procura de autoconhecimento e o contacto com as mais antigas tradições do país.
Das peregrinações ao Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, “Altar do Mundo”, à Catedral gótica de Viseu, da Capela de São Gonçalinho, em Aveiro, à Igreja de Santa Maria do Castelo, em Óbidos, da Igreja de Santa Cruz, Panteão Nacional, em Coimbra, ao Santuário do Senhor Jesus dos Milagres, em Leiria, da Ermida Nossa Senhora da Boa Estrela, em Manteigas, à monumental Sé da Guarda, o Centro de Portugal é palco de uma riquíssima herança espiritual e cultural.
A Virgem Maria era na Idade Média a padroeira de Portugal e hoje continua a iluminar a fé de um povo, mantendo viva a devoção Mariana em Portugal.
Basílicas, capelas, catedrais, conventos, ermidas, igrejas, mosteiros, museus de arte sacra e sinagogas fazem parte do património histórico-religioso edificado que a região Centro de Portugal cuida com carinho para dar a conhecer a quem a visita.
Estas referências estão espalhadas por toda a região, desde a mais alta escultura em pedra alusiva à Virgem Maria, guia e protetora dos pastores, na belíssima Serra da Estrela, a Ermida Nossa Senhora da Boa Estrela, passando pela Sé Velha e o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, em Coimbra, descendo um pouco mais e entrando nos mosteiros e conventos classificados Património Mundial da Humanidade: o Mosteiro de Alcobaça e o Mosteiro da Batalha, bem como, o Convento de Cristo, em Tomar (antiga sede dos Templários).
A correta designação do Mosteiro da Batalha, uma das mais belas obras da arquitetura gótica portuguesa e europeia, é Mosteiro de Santa Maria da Vitória.
Situado no centro da vila da Batalha, nasceu de um voto fervoroso feito à Virgem Maria por D. João I, que ali erigia um Mosteiro em sua honra se derrotasse os castelhanos na Batalha de Aljubarrota, ocorrida a 14 de agosto de 1385. Como prova da sua gratidão à Virgem, a quem tinha pedido para interceder junto de Deus, o novo rei decidiu construir um mosteiro, doando-o à Ordem Dominicana.
Reconhecido como Panteão Nacional, é constituído por uma igreja, dois claustros com dependências anexas e dois panteões reais, a Capela do Fundador e as Capelas Imperfeitas. A sua importância religiosa, histórica e monumental seria reconhecida pela UNESCO, que lhe atribuiu em maio de 1983 a classificação de Património Mundial da Humanidade.
Também o conhecido Mosteiro de Alcobaça tem uma outra designação: Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça.
Nasce em 1153, aquando da Reconquista cristã, no seguimento de um voto feito por D. Afonso Henriques à Virgem Maria. Reza a lenda que o primeiro rei de Portugal teria prometido à Virgem Maria que, se ele conquistasse Santarém aos mouros, doaria terras à Ordem de Cister, dirigida por São bernardo de Claraval e ordenaria a construção de Mosteiro em sua honra. A vitória aconteceu e para além de doar as terras que se avistavam da Serra de Albardos à Ordem de Cister, D. Afonso Henriques mandou erigir o Mosteiro. Desta forma nasce Alcobaça, uma zona desabitada que, agora seria povoada por uma ordem cristã, que se mostraria muito importante no desenvolvimento cultural, social e económico da região. Toda a comunidade nasceu e desenvolveu-se em torno da construção do Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, a primeira igreja construída em Portugal.
O sóbrio e austero Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, classificado Património Mundial da Humanidade pela UNESCO desde 1989, foi inteiramente construído pelos monges. E é aqui, na Igreja de Santa Maria, a mais longa do país, que poderemos admirar os túmulos góticos de D. Pedro I e D. Inês de Castro, protagonistas da mais trágica história de amor de Portugal. Do lado direito, a sul, Pedro; do lado esquerdo, a norte, Inês. Frente a frente para que, no dia da Ressurreição se vejam de imediato mutuamente.
A Nazaré é outro dos destinos que, associado à lenda e milagre de D. Fuas Roupinho, irá levá-lo ao Sítio certo.
No topo do promontório, que guarda e protege a enseada, encontra-se o Sítio – local de devoção a Nossa Senhora da Nazaré. A partir do século XII é aqui venerada a imagem de uma virgem morena trazida da Nazaré na Palestina. É no Sítio da Nazaré que se encontra o mais antigo santuário mariano da peregrinação popular e real. É também aqui que se ergue à beira da falésia, a Ermida de Nossa Senhora da Nazaré ou Ermida da Memória, em 1182, por iniciativa de D. Fuas Roupinho, após o milagre que o salvou nesse ano.
Peniche é um destino que também o pode surpreender. Aparentemente vocacionado para a praia e atividades náuticas, tem uma rota religiosa que passa por onze templos. Localizado próximo do cabo Carvoeiro, mesmo junto à costa, o Santuário de Nossa Senhora dos Remédios é um local de culto desde o século XII. Diz a lenda que a imagem de Nossa Senhora foi aqui encontrada, escondida numa pequena caverna situada exatamente no local onde hoje se ergue a capela cujo interior é revestido por valiosos azulejos do século XVIII. Local de devoção e romaria, a Procissão em honra de Nossa Senhora dos Remédios realiza-se anualmente no terceiro domingo de outubro. A visita ao Santuário é uma oportunidade para conhecer a Rota das Igrejas, um roteiro que integra 11 templos no concelho de Peniche, abertos ao público, e onde se pode obter um conhecimento mais profundo da sua história.
Da mesma forma, o concelho da Covilhã abriga um património religioso de grande beleza e valor histórico que merece ser apreciado e divulgado. E da mesma forma, surpreendentemente, também o projeto da “Rota das Igrejas da Covilhã” abrange um total de 11 templos na cidade, em especial no centro histórico.
Abertos em horários específicos, estes espaços religiosos proporcionam aos visitantes um conhecimento mais profundo da sua história.
A rota pode ser complementada com uma visita ao Museu de Arte Sacra.
A influência da religião é notória nos mais diversos aspetos da vida social da Sertã, não apenas nos usos mas também nos costumes. Descubra as igrejas e capelas do concelho da Sertã e deixe-se encantar pela sua beleza e pela singularidade das peças e elementos ornamentais que encerram. Fique a conhecer as romarias e festas que, ao longo de todo o ano, dão um enorme colorido a esta região. Descubra uma Sertã diferente e fascinante nas páginas do Roteiro Religioso do Concelho da Sertã.
Fátima, Altar do Mundo
São muitos os lugares de oração, mas há um mundialmente conhecido. Local de peregrinação desde 1917, Fátima é hoje um dos Santuários marianos mais importantes de peregrinação do Mundo. Lugar de silêncio, retiro e espiritualidade, recebe milhões de peregrinos por ano. Na simplicidade universal da sua mensagem de Paz, é um espaço de paz e meditação.
De maio a outubro, nos dias 13 de cada mês e durante todo o ano, milhões de peregrinos percorrem anualmente os caminhos de Fátima para estar mais perto do local onde três pequenos pastores – Jacinta, Francisco e Lúcia – afirmam ter visto a Virgem Maria.
É neste lugar chamado Cova da Iria que se desenvolveu a cidade e locais onde o terrestre e o espiritual se conjugam numa paz e tranquilidade quase imbatível.
A uma curta distância de Fátima, o Santuário de Nossa Senhora da Ortiga é também um refúgio de fé que abriga estórias de milagres e acolhe festividades religiosas que inspiram e comovem quem o visita. Segundo a lenda, o lugar terá recebido este nome devido às urtigas que aqui se encontravam em profusão. Diz-se que as folhas de ortiga representam a humildade e perseverança na devoção a Nossa Senhora. Simbolizam as dificuldades da vida, mas também a força da fé que permite superá-las.
Este é um local mariano onde Nossa Senhora teria aparecido em 1758, a uma jovem pastora que guardava o seu rebanho. A menina, muda de nascença, recuperou a fala quando a Virgem Maria lhe pediu uma ovelha. Correu contar ao pai que ficou espantado e maravilhado com o milagre, tratando que se cumprisse o pedido da Senhora prometendo conceder muitas graças: que ali fosse construída uma capela em sua honra.
Antigamente, o andor de Nossa Senhora da Ortiga era carregado apenas pelos rapazes de 20 anos, que tinham sido chamados para cumprir o serviço militar obrigatório com destino à guerra. Era um momento de reencontro, e de pedir proteção à Mãe do Céu. Aos poucos, as raparigas também começaram a participar no mesmo espírito, com a mesma idade, num alegre ambiente de juventude dos 20 anos à volta da imagem de Nossa Senhora.
A romaria ao Santuário da Nossa Senhora da Ortiga, na paróquia de Fátima, para além de um espaço para cumprir promessas era também um local para iniciar namoros. Rapaz e rapariga que dessem três voltas à capela juntos, iriam certamente namorar e, em muitos casos, casar.
Quando estiver em Fátima ou nas proximidades, não deixe de visitar o Santuário de Nossa Senhora da Ortiga. É um lugar onde a fé, a devoção e a espiritualidade se encontram num ambiente de beleza natural e paz. E é lá que as pessoas das redondezas, grandes devotas à imagem de Nossa Senhora e a este santuário, vivem momentos de grande confraternização, sempre no primeiro domingo de julho e duram três dias de celebrações. No último dia, à terça-feira, depois da eucaristia solene às 12h00, o almoço partilhado realiza-se em tendas colocadas de véspera à volta da capela. É a “Festa das famílias” onde avós, filhos, netos, compadres, toda a gente se reúne nesta altura em que anualmente ocorrem as tradicionais festas e uma romaria secular de enorme religiosidade.
Conheça estes e outros caminhos de Maria e deixe-se guiar com calma, fé e tranquilidade, até locais de visita inteiramente dedicados ao culto de Nossa Senhora: os Altares Marianos.
SAIBA MAIS…
. GUIA Caminhos de Fátima e Altares Marianos no Centro de Portugal
. GUIA Caminhos da Fé
. MAPA Caminhos da Fé
. GUIA Turismo Espiritual e Religioso do Centro | Boa Cama Boa Mesa | Expresso
Partir numa viagem espiritual pela ROTA CARMELITA
O percurso começa no Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra, junto do memorial da Irmã Lúcia e termina no Santuário de Fátima. Ao longo de 111 Km percorremos seis concelhos – Coimbra, Condeixa-a-Nova, Penela, Ansião, Alvaiázere e Ourém – rodeados de espaços bucólicos que inspiram os sentidos e libertam a mente.
A Rota Carmelita é um itinerário espiritual percorrido, todos os anos, por centenas de peregrinos. Tratando-se de uma experiência solitária ou em grupo, as motivações desdobram-se nas vivências e no percurso de vida de cada um. Mas, a chegada ao Santuário traduz-se num sentimento coletivo de comoção, compaixão e libertação que permanece, para sempre, na memória de quem já vivenciou esta experiência.
SAIBA MAIS…
. GUIA da Rota Carmelita
. BROCHURA da Rota Carmelita
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CAMINHOS DE SANTIAGO na Região Centro de Portugal
Outros caminhos levam-nos em peregrinação de sul para norte, até à Galiza: os Caminhos de Santiago de Compostela.
Dizem que basta um peregrino para encher a estrada. No Centro de Portugal são muitos os peregrinos e são muitas as estradas que atravessam quatro itinerários, parte integrante das rotas jacobeias portuguesas: o Caminho Central, o Caminho Nascente, o Caminho Português do Interior e o Caminho de Torres.
Existem, ainda, outros itinerários que, apesar de se encontrarem em diferentes estádios de desenvolvimento e de infraestruturação, são essenciais para diversificar a experiência de conhecimento do território proporcionada aos peregrinos: o Caminho Marítimo de Santiago, o Caminho do Oeste, a Variante de ligação entre Coimbra e Viseu, e a Via da Estrela.
Mas o Centro de Portugal não é apenas uma região de passagem entre o Sul e o Norte. E não se pense, também, que os Caminhos de Santiago na região são algo do passado recente. Há cada vez mais peregrinos a começar o caminho em Coimbra, em Viseu, em Aveiro, ou mesmo em Fátima, assim ligando os dois principais santuários de peregrinação do ocidente ibérico. E foi a consistente passagem de peregrinos neste território que definiu algumas emblemáticas rotas jacobeias.
Estas alternativas de Caminho oferecem aos peregrinos diferentes experiências, dependendo das suas preferências pessoais, quer cheguem a pé ou de bicicleta. Prepare-se também para entrar nesta aventura rumo ao túmulo do apóstolo de Jesus Cristo, São Tiago Maior, na Catedral de Santiago de Compostela.
Fazer o Caminho Português de Santiago é uma experiência única e transformadora, com passagem por alguns dos destinos mais pitorescos do Centro de Portugal.
Património judaico por explorar
A existência de outras religiões, como é o caso do judaísmo que manteve durante séculos a sua comunidade a viver “às escondidas” por força da envolvente política e religiosa, também deixou muitas marcas e conhecimentos que fizeram Portugal desenvolver-se. A comunidade judaica, aqui instalada desde o século V, produziu ao longo dos séculos, uma influência considerável na cultura e costumes portugueses.
E quando, apenas no século XX, os judeus sefarditas abriram ao mundo as suas sinagogas e judiarias, das quais destacamos Tomar e Belmonte, abertas a visitação, entendeu-se que o território nacional tem um imenso património cultural judaico por explorar.
É na região Centro que se encontram vários vestígios da sua presença em solo português, especialmente em Belmonte, que se tornou o epicentro da Rota das Judiarias, em Portugal. A Sinagoga “Beit Eliahu, entre ruas revestidas de pedra, e o Museu Judaico onde se encontram numerosas peças de origem judaica que durante séculos permaneceram escondidas da perseguição levada a cabo pela Inquisição.
Em Vilar Formoso, concelho de Almeida, encontramos o Memorial aos Refugiados e o ao Cônsul Aristides de Sousa Mendes (o herói português que ajudou a salvar milhares de judeus que fugiam do Holocausto). Lugar cheio de simbolismo, conta uma verdadeira história viva.
Não perca ainda a oportunidade de visitar a Casa da Memória judaica da Raia Sabugalense, no Sabugal, o Centro de Interpretação da Cultura Judaica Isaac Cardoso , em Trancoso, cuja sinagoga sefardita é apelidada de “Beit Mayim”, e a Casa da Memória da Presença Judaica e a Casa do Passal de Aristides de Sousa Mendes, em Carregal do Sal.
Se procura saber mais sobre a cultura Judaica, visite a Covilhã, Guarda e Torres Vedras, Alenquer, Castelo Branco e Celorico da Beira, Fornos de Algodres, Idanha-a-Nova, Linhares da Beira e Manteigas. Passe por Pinhel e Penamacor, Gouveia e Seia.
Aproveite e visite também o Museu do Moinho de Papel, em Leiria. Nesta cidade, viveu uma importante comunidade judaica e foi aqui que se instalou uma das primeiras oficinas de impressão tipográfica da Península Ibérica. E, claro, não pode perder ainda uma visita à Sinagoga de Tomar, situada em pleno centro histórico da cidade, também conhecida por Museu Luso-Hebraico de Abraão Zacuto.
Em Coimbra, as construções são a principal marca do passado da comunidade judaica na cidade, e o documento mais antigo que comprova a presença de judeus em território português pertence-lhe.
Aqui esteve instalada uma grande comunidade judaica, inicialmente circunscrita a uma zona onde vivia de forma independente do resto da cidade, ainda hoje conhecida como Judiaria Velha. Mais tarde, são obrigados a mudar-se para a zona da Baixa de Coimbra, apelidada de Judiaria Nova. Aqui, a arquitetura denuncia a sua presença com aquelas que ficaram conhecidas como “as casas dos judeus”, com um formato mais vertical do que o habitual, em lotes estreitos, normalmente com 3 ou 4 pisos, com duas portas na fachada. A maior correspondia ao espaço de oficina e a menor ao espaço de habitação, nos pisos superiores.
Em tempos capital de Portugal, hoje em dia terra de estudantes e de estudiosos, com uma das universidades mais antigas da Europa, Coimbra mostra agora um espaço que recupera a memória dos judeus que ali perderam a vida: o Pátio da Inquisição.
Este local relata uma versão da história dos tempos da Inquisição na cidade, trazida para a linha da frente na exposição “Judeus de Coimbra: Da tolerância à perseguição – Memórias e Materialidades”.
A mostra relata tempos negros por entre paredes que assistiram a tantas mortes e punições, numa das casas de tormento mais severas do país, situada no Largo da Inquisição. Tal como noutras cidades portuguesas, ali era o sítio onde, a partir do século XVI, se estabeleceu o Tribunal do Santo Ofício da Inquisição e onde era feita a justiça.
Foi aqui que D. João III criou, em 1542, o Real Colégio das Artes, para jovens universitários que estudavam temas ligados às humanidades. O colégio foi, no entanto, substituído pelo Tribunal da Inquisição de Coimbra, tido como um dos mais cruéis do país, e assim se manteve até à sua extinção, em 1821.
A mostra, com entrada gratuita, desenvolve-se ao longo de 13 painéis, facultando ao visitante uma experiência sensorial. Está patente ao público no Pátio da Inquisição, junto à Rua da Sofia, de terça a sábado, das 13h00 às 18h00, mediante marcação prévia (T. 239 840 754 | T. 239 857 525 | museu.municipal@cm-coimbra.pt).
Templo Ecuménico Universalista, único no Mundo
Em Miranda do Corvo, no topo do Parque Biológico da Serra da Lousã, existe um espaço único no Mundo. Inaugurado em 11 de setembro 2016, o Templo Ecuménico Universalista é uma homenagem à tolerância e ao respeito pela diferença.
Com forma piramidal alusiva ao Antigo Egito, mede 13,4 metros de altura, tal como o Templo de Salomão, construído no século IX a.C. em Jerusalém.
No seu interior, abriga um Observatório de Religiões que trata, em pé de igualdade, Cristianismo, Islamismo, Judaísmo, Hinduísmo, Xintoísmo, Jainismo, Budismo, Confucionismo, Taoismo, Sikhismo, Zoroastrismo, Fé Bahaí e a religião dos Orixás, numa valorização de cada religião por si.
Um rasgo no Templo permite que, diariamente, ao meio-dia, o Sol indique o centro, numa referência aos antigos adoradores do Sol, provavelmente uma das mais primitivas formas de religiosidade.
Os conteúdos informativos disponibilizados pelo Observatório foram elaborados pelo departamento de Ciência das Religiões da Universidade Lusófona, dirigido por Paulo Mendes Pinto, que descreveu este como “um projeto completamente único e ímpar em todo o mundo. A ênfase é colocada na cultura da paz, por oposição ao uso das religiões por parte de ideologias e para guerras e morte”.
Com o mesmo destaque que é dado a cada uma das religiões, o Templo tem também um espaço dedicado ao Ateísmo.
No exterior do Templo, um espaço retangular com pavimento em xadrez, e que remete para o típico chão dos templos maçónicos, constitui uma espécie de “pátio dos gentios”, numa resposta às palavras do Papa Bento XVI — que apelou ao diálogo interreligioso aberto a ateus e agnósticos.
Ao Templo Ecuménico pode chegar-se de carro ou a pé, a partir da entrada do Parque Biológico. Para quem optar pela via pedonal, o caminho é pontuado por bancos onde o visitante pode descansar e meditar nas frases de filósofos e pensadores com que se vai cruzando e que convidam à introspeção.
Ao longo do percurso, sucedem-se símbolos tauistas, a imagem de Buda, um altar hindu, a Mesa da Igualdade dos shiks (que também pode ser a mesa da Última Ceia cristã ou a Távola Redonda da tradição bretã), referências ao mundo politeísta e aos fenómenos indígenas no seu confronto com as religiões hegemónicas.
Nas fachadas do Templo, estão impressos símbolos dos monoteísmos abraâmicos: na face orientada para sudeste o “crescente” do Islão e uma pedra negra que lembra a Caaba e define a direção de Meca; para sudoeste, a estrela de David, símbolo judaico; e na parede voltada para noroeste a cruz cristã.
As visitas, atualmente só para grupos, podem ser feitas mediante contacto prévio junto do Parque Biológico da Serra da Lousã.
Festas e romarias seculares
Conheça destinos espirituais através das festas e romarias locais. Estas manifestações, que tão bem complementam o património edificado, celebram momentos da história que não deixam ninguém indiferente. É hora de festejar e agradecer.
Participe nas Festas da Rainha Santa (Coimbra), nas romarias e círios a Nossa Senhora da Nazaré, na Semana Santa em Óbidos e visite Fátima de maio a outubro, especialmente nos dias 12 e 13, para sentir a espiritualidade que a cidade e o seu Santuário mariano concentram.
De quatro em quatro anos, não perca também, a grande Festa dos Tabuleiros ou a Festa do Divino Espírito Santo, em Tomar, deixando-se levar pelo encanto das flores que embelezam este evento. A última Festa dos Tabuleiros aconteceu em julho de 2023. Espera-se, portanto, que se realize novamente em 2027.
Se nunca visitou a Capela de São Gonçalinho, dedicada ao Santo casamenteiro e Patrono da cidade de Aveiro, saiba que este é um local de devoção e celebração profundamente enraizado na cultura local. A festa anual em honra a São Gonçalinho é, sem dúvida, uma das celebrações mais acarinhadas pelos moradores do bairro da Beira-Mar e pela população de Aveiro, em geral.
Todos desejam participar nesta tradição única e alegre que se realiza anualmente no fim de semana mais próximo do dia 10 de janeiro, dia dedicado ao São Gonçalinho, marcado pelo pagamento de promessas em jeito de agradecimento pelo seu poder de cura de doenças ósseas e a sua capacidade de resolver problemas conjugais e amorosos.
O ponto alto da celebração acontece quando as cavacas doces são lançadas da cúpula da capela para as centenas de pessoas que se reúnem em torno da capela, emocionadas e ansiosas para apanhar estes pequenos bolos tradicionais.
Prepare-se, ainda, para fazer parte de uma incrível aventura que vai muito para além de qualquer expectativa: a Romaria de S. Paio da Torreira.
Acontecendo por volta do dia 8 de setembro de cada ano, esta celebração ancestral atrai multidões em busca de uma experiência única, nesta magnífica praia de banhos, vila de pescadores que se situa entre o mar e o canal norte da Ria de Aveiro, no concelho da Murtosa.
É nesta altura que a Ria se transforma num cenário de tirar o fôlego, com majestosas regatas de moliceiros e emocionantes corridas de bateiras à vela. Os chinchorros, embarcações de trabalho tornam-se, por um dia, verdadeiros barcos de competição, proporcionando um espetáculo surpreendente.
Grupos de romeiros, conhecidos como “rusgas”, encantam a noite com suas músicas populares, percorrendo as ruas da Torreira. E da festa faz parte um imperdível espetáculo de fogo de artifício que ilumina o Mar e a Ria. Simplesmente a não perder.
Conheça depois, o Santuário de Nossa Senhora das Preces que se localiza junto à aldeia de Vale de Maceira, freguesia de Aldeia das Dez, no concelho de Oliveira do Hospital, a uma altitude entre 650 e 750m.
Uma visita ao Santuário de Nossa Senhora das Preces “proporciona uma experiência rica em encontros”, tanto com a religiosidade, como “o contacto com uma das mais antigas tradições do país“, uma vez que “é palco de uma riquíssima herança espiritual e cultural”, o que torna este Santuário num destino espiritual privilegiado, que também se materializa na grande Romaria da Senhora das Preces(que decorre no primeiro Domingo de julho), bem como nas festas e celebrações que decorrem ao longo do ano, designadamente: Celebração da Paixão de Cristo, ao longo das Capelas da Via Sacra (na Sexta-Feira Santa), Nossa Senhora das Necessidades, no alto do Monte do Colcurinho (Domingo de Pentecostes), Santa Eufémia, junto à casa da Guarda Florestal (Domingo posterior ao dia 16 de setembro) e Senhora do Rebusco ou da Apresentação da Santíssima Virgem, no Santuário (Domingo posterior ao dia 21 de novembro).
As capelas do Santuário constituem a maior atração, pois em cada uma delas está patente, em cenas muito expressivas e cheias de movimento, um episódio da Paixão de Cristo, retratado em imagens esculpidas em tamanho natural.
Para além das festividades religiosas, retomaram-se outras atividades que tinham caído em desuso, de que é exemplo a subida a pé ao alto do monte do Colcurinho, na manhã do dia São João, para aí ver nascer o sol, e criaram-se novas atividades, como é o caso do Encontro de Astronomia do Santuário de Nossa Senhora das Preces, denominado ASTROCOLCURINHO – O céu do Açor, para observação do pôr-do-sol e do céu noturno a partir do Alto do Monte do Colcurinho (meados de agosto).
Este Santuário está situado nas faldas da Serra do Açor, a uma distância de 25 km da Mata da Margaraça; a 14 km do Piódão (uma das aldeias históricas); e 8 km do Monte do Colcurinho (1244 m), onde se venera a imagem de Nossa Senhora das Necessidades e de onde se tem uma panorâmica de tirar a respiração (360º) sobre uma vasta área que se estende da Serra da Estrela à da Lousã, do Caramulo ao Açor.
Como complemento à visita do Santuário, muitas outras atrações poderá encontrar nas suas imediações como: Património ambiental e Percursos (de carro, mota ou pedestres).
O zelo e a conservação do Santuário de Nossa Senhora das Preces está a cargo da Irmandade de Nossa Senhora das Preces.
FOLHETO DO SANTUÁRIO | + INFORMAÇÕES
A poucos quilómetros da Batalha, na Região de Leiria, encontra-se Reguengo do Fetal, uma freguesia com pouco mais de dois mil habitantes, mas com muito para oferecer a quem a queira descobrir. Da enigmática Festa dos caracóis à maravilhosa história do milagre de Nossa Senhora do Fetal, esta é freguesia cheia de encanto e tradições.
Aqui, como manda a tradição, no primeiro domingo de outubro, as ruas enchem-se para uma celebração secular. A festa começa nove dias antes, quando a Nossa Senhora do Fetal, que está habitualmente lá em cima, na Ermida de Nossa Senhora do Fetal, é transportada até à Igreja Matriz, na primeira procissão do ritual. Depois, começam os preparativos para o seu regresso, para a procissão que vai rua acima.
Mas quem acha que este ritual é apenas mais um, está enganado. Celebra-se o milagre da Senhora do Fetal, uma história que nos diz que, numa altura em que se passava fome, a Nossa Senhora apareceu no meio dos fetos (as plantas que dão nome ao local) e fez um milagre que trouxe alimento para toda a população. E o povo não esqueceu e todos os anos presta a sua devoção.
Na freguesia moram 2200 pessoas e na aldeia de Reguengo do Fetal, são cerca de 800 os habitantes. De uma forma ou de outra, todos colaboram na preparação da Procissão dos Caracóis.
A energia elétrica é cortada durante os períodos em que as procissões se realizam e todas as ruas e escarpas recortadas da aldeia são iluminadas através de milhares de cascas de caracóis. Estima-se que sejam cerca de 12 a 14 mil as cascas de caracóis utilizadas e que depois de secas, se enchem de azeite e um pavio, que mais tarde é aceso. Ainda que seja um ritual invulgar, a verdade é que nem os próprios populares parecem saber o porquê de isto acontecer. Uns dizem que foi por criatividade dos antepassados. Outros afirmam que não foi mais do que a necessidade de encontrar uma alternativa às velas. Mas a verdade é que a tradição se manteve até aos dias de hoje, inspirada na utilização de lamparinas de azeite como fontes de luz, até meados do século passado.
A Procissão dos Caracóis é candidata a Património Cultural Imaterial.
Viver a Páscoa no Centro de Portugal
De forma única, a Região Centro de Portugal celebra a Semana Santa, em manifestações religiosas que renovam as profundas e ancestrais raízes da população portuguesa. Romarias e tradições trazem de volta os chamados filhos da terra, mas também atraem os milhares de turistas que procuram viver a Páscoa de forma diferente.
É tempo de viver tradições ancestrais, todas elas grandes manifestações artísticas de Fé que encenam, entre outros momentos, a Ceia do Senhor, o rito do Lava-pés, a Paixão e Morte de Jesus Cristo, a Procissão do Senhor Ressuscitado.
O momento alto acontece com a Via-Sacra ao vivo, emotiva cerimónia de orações e cânticos religiosos que recria as 14 estações, tal como indica o relato bíblico. E são milhares os participantes que na Sexta-feira Santa percorrem centros históricos para meditar sobre os mistérios da fé cristã, num percurso marcado pelo sofrimento mas também pela esperança.