Chegamos ao Parque Biológico da Serra da Lousã, em Miranda do Corvo, que abrange uma área de cerca de 33.000 metros quadrados de Reserva Ecológica Nacional. Aqui não faltam atividades para toda a família, já que integra um parque de vida selvagem, uma quinta pedagógica, labirinto de árvores de fruto, roseiral, centro hípico, o Museu Vivo de Artes e Ofícios Tradicionais e, ainda, um restaurante. Pelo caminho, desfrute da paisagem natural única e não se assuste se encontrar burros, corujas, esquilos, raposas, linces, lamas e até ursos.

Ainda no Parque, o Restaurante Museu da Chanfana é uma boa aposta para quem gosta de descobrir os sabores locais mas, convém reservar mesa com antecedência. A chanfana é, aliás, um dos pratos mais icónicos da Região de Coimbra. Dependendo do concelho onde estivermos, ou da mão (e receita secreta) do cozinheiro, é possível notar pequenas diferenças de sabor deste prato feito com carne de cabra. Se provar esta iguaria em Vila Nova de Poiares, repare que é confecionada e servida num caçoilo de barro preto. Saiba que é Barro Preto de Olho Marinho, uma produção típica e com grande tradição e importância no concelho. A viagem leva-nos ainda ao Castelo da Lousã, outrora refúgio do rei Arunce, que residia em Conímbriga, mas não partimos sem levar alguns potes de Mel da Serra da Lousã DOP. Devemos um agradecimento às abelhas que se alimentam da flora natural desta Serra para produzir um néctar famoso pela viscosidade e cor escura.

Serra da Lousã

Mergulhamos agora a fundo nas curvas e contra-curvas da serra para chegar ao concelho de Góis, onde se encontra o Ecomuseu das Tradições do Xisto. Mesmo antes de chegar, passamos pela Aldeia de Xisto da Comareira. Pare o carro e aproveite alguns momentos para respirar o ar puro e contemplar a paisagem no miradouro construído para o efeito e não se esqueça de eternizar a memória em fotografia. Terá de continuar o mesmo caminho para chegar a Aigra Nova, a Aldeia do Xisto onde o Ecomuseu encontrou casa. É aqui que as tradições e a cultura serranas são contadas e mostradas de forma aberta e complementar. Este museu vivo leva-nos numa viagem pela Serra da Lousã: pode apadrinhar uma planta ou ajudar na reflorestação da serra na Maternidade das Árvores, conhecer a fauna e a flora locais e descobrir as várias Aldeias do Xisto da região. Faça o que fizer, não deixe de recuperar o fôlego – e a energia – sentado no banco que serve de miradouro, mesmo ao lado do espaço onde pode deixar o carro. Acredite que o simples ato de nos sentarmos num banco de jardim já valeu muito a pena.

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À medida que nos vamos aproximando do final desta viagem pela Região de Coimbra, começa a ser mais difícil imaginar o regresso a casa, tal é o desejo de continuar a comer bem. Quer mais uma razão? Até lhe damos duas: cabrito assado, que encontra facilmente por toda a Região de Coimbra, ou o maranho, um tipo de enchido típico da Pampilhosa da Serra, que difere do maranho da vizinha Região da Beira Baixa pelo tipo de erva aromática utilizada na sua confeção. Depois de uma refeição farta, descanse debaixo de um céu estrelado, de preferência. É que a região que engloba os concelhos de Pampilhosa da Serra, Mortágua, Arganil e Góis, e que se estende a Penacova, Oliveira do Hospital e Tábua, reúne condições únicas de visibilidade e níveis de (pouca) poluição luminosa ideais para obter a certificação Dark Sky nas Aldeias do Xisto. Esta distinção classifica os melhores céus não só para a observação astronómica, mas também, claro, para dormir ao ar livre. Imagine as possibilidades: um grupo de amigos pode contar histórias pela noite dentro; um casal apaixonado pode passar a noite deitado numa manta de piquenique a imaginar o futuro; e um aspirante a astrofísico pode conhecer melhor o universo. Espere, por isso, o anoitecer para que a verdadeira experiência comece.

Quando tiver coragem para abandonar um dos céus mais bonitos do país, siga em direção ao concelho de Arganil para encontrar a Aldeia Histórica do Piódão. Até lá, esperam-nos algumas curvas e cerca de uma hora de viagem, mas não se assuste. Todo o tempo vale a pena para desfrutar da magnífica paisagem que nos acompanha no caminho, como a da Mata da Margaraça ou da Fraga da Penha. Ao chegar, repare nas casas encaixadas umas nas outras e perfeitamente organizadas, que tornam este lugar tão especial. Suba até ao topo da aldeia, onde um miradouro o espera. A partir daí é só preparar a máquina fotográfica e tentar não se perder entre ruas e ruelas, sempre com muitas escadas à mistura. Se se sentir aventureiro, siga o caminho pedestre da Foz D’Égua e mergulhe nas águas límpidas da praia fluvial que o esperam após alguns quilómetros de caminhada. Juntamente com a ponte de corda, lá bem no alto, este é um dos spots mais instagramados do país e é fácil perceber porquê.

Depois de rendidos aos encantos da natureza pura da Serra do Açor, continuamos acompanhados por paisagens de cortar a respiração desta que é a quinta serra mais alta de Portugal Continental. Ao cruzar o rio Alva, chegaremos à última etapa da nossa viagem.