Partimos do Luso e rumamos a sul, em direção a Coimbra, mas não sem antes reservar algum tempo para uma paragem gastronómica em Penacova. Aqui poderá deliciar-se com um arroz de lampreia, servido como manda a tradição: “a correr” (ou com arroz malandro, como também é conhecido) e com lampreia do Rio Mondego. Atenção: a época da lampreia dura apenas entre os meses de janeiro e abril e convém reservar mesa num dos restaurantes locais antes de seguir caminho. Mas a viagem que nos leva à EN 235 durante meia hora vale bem a pena, acredite.
Uma viagem pelo Património Mundial do Centro de Portugal num roteiro de três dias
Saber maisA alguns quilómetros do centro de Coimbra vislumbramos a Torre da Universidade, no alto de uma das colinas que abraçam o Mondego. É exatamente até lá que seguimos, para mergulhar a fundo no Património Mundial da Humanidade, classificado pela UNESCO desde 2013, numa área que inclui a Universidade de Coimbra, Alta e Sofia.
Comecemos pela Universidade de Coimbra, instituição que encerra em si um património vivo já que se mantém em funcionamento desde a sua fundação, há mais de 700 anos. Siga, por isso, as nossas recomendações e respeite não só as instalações, mas, também, os períodos de aulas e todos os que diariamente usam o espaço, sejam alunos, professores ou funcionários.
Agora sim, podemos dar início à nossa visita. Partimos da Porta Férrea, de 1634, ainda com vestígios de trajes de estudantes que deixaram, metafórica e literalmente, uma parte de si em Coimbra no momento da despedida. Abre-se, então, espaço para o Pátio das Escolas e as escadas mais fotografadas da cidade, as da Via Latina. Independentemente do programa que escolher, a visita inclui sempre o Paço Real, que passa pela Sala dos Capelos, ainda hoje utilizada para atos solenes, a Sala de Exame Privado e das Armas. Inclui também o Colégio de Jesus, um dos pólos do Museu da Ciência, onde poderá descobrir as Galerias de Física Experimental (dos séculos XVIII e XIX) e de História Natural (do século XVIII).

Mas não se fique por aqui já que, consoante o tempo que queira passar a conhecer este extraordinário lugar, poderá ainda visitar a Capela de S. Miguel, com impressionantes azulejos de cores vivas; a Biblioteca Joanina, um dos expoentes máximos do Barroco que, para além da aquitetura deslumbrante, acolhe atualmente um acervo com cerca de 40.000 livros; e o Laboratório Chimico, construído durante a reforma iniciada pelo Marquês de Pombal e também pertencente ao Museu da Ciência. Não esqueçamos, claro, a subida à Torre da Universidade, também conhecida como A Cabra. Ganhe coragem e suba os 180 degraus que o separam de uma das melhores vistas sobre a cidade.
Passear na Alta de Coimbra é, por si só, passear por um Lugar Património Mundial da Humanidade. Se quisermos ser exatos, a Alta tem, ao todo, 21 edifícios classificados, incluindo os vários edifícios do Estado Novo, junto à Rua Larga e à Praça de D. Dinis, o Colégio de S. Jerónimo e até o Jardim Botânico. Passeie tranquilamente pela estufa, pela mata e pelos canteiros temáticos, sabendo que as crianças vão adorar o espaço livre para correr e brincar.
Não deixe de passar pela Sé Nova, mesmo em frente ao Museu Nacional Machado de Castro, outro ponto de paragem obrigatória. A vista da varanda do museu ajuda a justificar a paragem mas o que realmente nos faz demorar é a sua coleção de metais preciosos medievais, cerâmicas, têxteis, mobiliário e objetos arqueológicos recolhidos em mosteiros e conventos abandonados da região de Coimbra. Se tiver oportunidade, não deixe escapar a visita ao criptopórtico onde assentava o fórum da antiga cidade romana de Aeminium.
Aceite as ruelas estreitas como companhia e perca-se pela Alta de Coimbra. A pé, sempre a pé. Descanse durante alguns minutos na escadaria da imponente Sé Velha, ainda hoje palco de um dos mais importantes momentos da vida académica, a Serenata da Queima das Fitas, em maio. E desça, com cuidado, o Quebra-Costas – uma escadaria íngreme que liga o largo da Sé ao Arco de Almedina, a principal porta da antiga cerca medieval. A Muralha de Coimbra – que corria por 1800 metros e circunscrevia quase 22 hectares– contava com cinco portas e um considerável número de torres. A Torre de Almedina é uma das que melhor resistiu à ditadura do tempo, sendo hoje o Núcleo da Cidade Muralhada e um dos três polos do Museu Municipal de Coimbra.
Segue-se a Torre de Anto, que acolhe agora o Núcleo da Guitarra e do Fado de Coimbra. Monumento Nacional desde 1935, este espaço conta a história e as estórias associadas ao património imaterial da Canção de Coimbra. A visita começa com a guitarra do icónico tocador de guitarra de Coimbra, Carlos Paredes, e é documentada a existência de inúmeras oficinas de mestres violeiros bem como a evolução das guitarras e dos conteúdos das próprias canções. Já na agitada Rua Ferreira Borges, encontrará o terceiro núcleo do Museu Municipal, no Edifício Chiado que, para além de um excelente exemplar da arquitetura do ferro, alberga a coleção de arte (dos séculos XIX e XX) doada pelo casal Telo de Morais.
O Património Mundial da Humanidade estende-se ainda à Rua da Sofia pela sua importância para a fundação da Universidade. Neste núcleo existem dez edifícios classificados, que vão desde a Igreja de Santa Cruz, Panteão Nacional onde se encontra sepultado D. Afonso Henriques, ao Antigo Colégio das Artes, no Pátio da Inquisição. Já que aqui está, não deixe de passear pelas labirínticas ruas da Baixa de Coimbra e descubra as praças e pequenos largos que vão interrompendo a malha urbana. Aproveite e recupere energias numa das tascas típicas da Baixa ou relaxe apenas numa das muitas esplanadas, de preferência com vista privilegiada para o rio.

O passeio segue, agora, para a outra margem do Mondego, de preferência com um Pastel de Santa Clara na mão. Até porque o Convento de Santa Clara é um dos próximos pontos de paragem nesta viagem. Estes pastéis eram confecionados no convento, onde as claras de ovos eram usadas para engomar tecidos e as gemas excedentes eram convertidas em doces iguarias. Para fazer face às dificuldades vividas pelas ordens religiosas no século XIX, comercializaram-se os pastéis que assim chegaram aos nossos dias. Mas antes de chegarmos ao Mosteiro, passamos pelo paraíso dos mais novos, o Portugal dos Pequenitos. O nome não engana e este parque é, literalmente, uma réplica do país à escala dos mais pequenos. Além dos exemplares de casas típicas de vários pontos de Portugal, as crianças ainda podem divertir-se numa réplica da “Torre da Universidade”, em miniatura, claro.
Agora sim, seguimos a pé por uma rua longa até chegarmos ao Mosteiro de Santa Clara-a-Velha. A visita ao antigo mosteiro fundado por D. Mor Dias em 1283 começa com um vídeo sobre a história do mosteiro, passado de hora a hora. Segue-se a exposição de artefactos, pintura, fotografia e azulejos originais e só depois rumamos ao exterior, onde encontramos as ruínas da igreja e podemos imaginar alguns locais de outrora, como o antigo Paço da Rainha Santa Isabel- um dos cenários da história de D. Pedro e D. Inês de Castro.
Continuando pela mesma rua que nos trouxe ao Mosteiro e encontramos, mais à frente, a Quinta das Lágrimas. Hoje é um hotel de luxo rodeado de românticos jardins e alberga um dos ex-líbris da célebre história de amor: a Fonte das Lágrimas, cujas águas terão, segundo a lenda, bebido das lágrimas de Inês aquando da sua morte. A lenda vai mais longe e dita que a mancha avermelhada na rocha é sangue da própria.
Deixamos uma última dica: não parta de Coimbra sem conhecer a tradição cervejeira da cidade, que tem dado passos firmes no seu restabelecimento e procure pela cerveja artesanal local nos vários espaços comerciais da cidade.