A próxima paragem obrigatória é já no centro de Aveiro, mas, pelo caminho, encontra mais dois locais que merecem atenção. O primeiro é o núcleo de casas Arte Nova que surpreendem pelas suas características arquitetónicas e pela decoração da sua fachada. A Vila Africana (na Rua Vasco da Gama) e a Vila Vieira (na Rua Frederico Cerveira) são dois dos mais exuberantes exemplares. O outro ponto de paragem é, nem mais nem menos, um dos mais surpreendentes museus desta região: o Museu Marítimo de Ílhavo.

Museu Marítimo de Ílhavo

Saber mais

Premiado nacional e internacionalmente pela sua arquitetura, o Museu Marítimo de Ílhavo testemunha a ligação da terra ao mar e à Ria de Aveiro, principalmente no que diz respeito à pesca do bacalhau à linha nos mares da Terra Nova e da Gronelândia. Um dos ex-líbris da visita é o grande aquário de bacalhaus, que faz as delícias dos mais novos. Não é, por isso, de estranhar que as tradições marítimas e o bacalhau, especialmente o salgado seco, assumam um papel primordial nas mesas da região. A arte da seca do peixe, aperfeiçoada ao longo de séculos, dá-lhe um aroma, um sabor e uma textura únicos que poderá provar em vários restaurantes da região. Além dos “mil e um” pratos de bacalhau, conte também encontrar alguns menus de degustação inteiramente dedicados à iguaria.

Seguindo sempre pela Estrada Nacional 109 chegamos à cidade que dá nome à região – Aveiro. É aqui que é sentida a maior ligação à Ria de Aveiro, ou não invadisse esta os bairros da cidade. É sabido que a Ria constitui um fundamental recurso do território e, especialmente, do espaço urbano. Não é, por isso, de estranhar que muitas das experiências que aqui propomos a tenham por base ou como pano de fundo.

Comecemos por uma das atividades mais procuradas: o passeio de moliceiro pelos canais. Antes disso fique apenas com uma pequena lição de história: noutros tempos o barco moliceiro e as suas velas brancas dominavam a Ria já que este era o meio utilizado na apanha do moliço (algas usadas na fertilização dos campos). Hoje as velas foram substituidas por motores e grande parte dos moliceiros permite que conheça uma grande parte da história de Aveiro através de um belo passeio. Tem um mar (ou melhor, uma ria) de opções: se quiser experimentar uma viagem a bordo de um tradicional moliceiro, com as suas elegantes linhas e painéis coloridos e engraçados, opte por uma das muitas empresas que operam no canal principal; se quiser conhecer a Ria profunda, existem ainda opções amigas do ambiente, com vários percursos para que possa conhecer a região sempre por água. Escolha a que melhor dará a conhecer o património ambiental, não esquecendo a sua proteção e preservação. Se estiver com dúvidas, saiba que qualquer uma das experiências resultará numa fotografia memorável.

Moliceiros e outras embarcações tradicionais no Canal Central – Aveiro

Ainda nesta etapa, não deixe de visitar as salinas, onde poderá levar uma recordação para si e para quem mais gosta. Ricas em história e tradição, estes locais de forte salinidade são, ainda, casa de muitas espécies. As Salinas de Aveiro são uma boa razão para deixar o carro para trás e seguir a pé. Percorra os pequenos caminhos de terra que contornam a água, admire os pequenos montes de sal que vão interrompendo o percurso e aproveite para comprar o bom sal ou flor de sal que aqui se produz.

Um dos pontos de paragem da nossa viagem é, também, a Marinha da Troncalhada, bem perto do centro da cidade. Neste Ecomuseu ao ar livre poderá conhecer os métodos de produção artesanal do sal, as tradições ligadas a esta atividade e, ainda, a paisagem e biodiversidade características do território. Está permanentemente aberto e a visita é livre e autónoma – ainda que seja possível fazer uma visita guiada com marcação prévia junto dos serviços educativos do Museu da Cidade. Este Ecomuseu integra, aliás, a Rede Municipal de Museus de Aveiro, para além do Museu da Cidade, o Museu de Aveiro/ Santa Joana e o Museu Arte Nova. Mas vamos por partes, já que todos merecem uma visita.

O Museu da Cidade foi concebido como um espaço interativo, envolvendo a comunidade na construção dos seus conteúdos. Expõe artistas locais na sua ala temporária e leva os visitantes para fora das quatro paredes, através de visitas orientadas para a descoberta dos lugares, das histórias e das gentes de Aveiro.

Já o Museu de Aveiro/Santa Joana, instalado no antigo Convento de Jesus da Ordem Dominicana feminina, é testemunho da vivência conventual ao longo de quatro séculos e alberga um espólio artístico e religioso de valor incalculável. Destaca-se a magnificência da talha dourada da Igreja de Jesus e um dos pontos altos da visita, o túmulo de Santa Joana.

Arte Nova

Saber mais

Quanto ao Museu Arte Nova, é o centro interpretativo de uma extensa rede de motivos de Arte Nova disseminados por toda a cidade. Mais do que um museu estático, o Museu Arte Nova convida a uma descoberta dos vários exemplares espalhados por Aveiro, todos devidamente identificados – tanto num mapa como nos próprios edifícios – como é o caso da Casa do Major Pessoa, na Rua Barbosa Magalhães nº9, 10 e 11, e o Coreto do Parque Municipal Infante D. Pedro, na Avenida Araújo e Silva.

Mas no que à arquitetura diz respeito, poderá descobrir também uma série de edifícios contemporâneos e industriais notáveis, espalhados um pouco por todo o território.

Não deixamos Aveiro para trás sem antes provar os sabores da região. Começamos pela Carne Marinhoa DOP, uma raça autóctone das terras banhadas pelos estuários do Vouga, Cértima e Antuã, que desembocam na Ria de Aveiro. Estes animais, de sabor e textura incomparáveis, são criados de forma sustentável, sem pressas – tal como um bom naco deve ser degustado.

Não dê, ainda assim, nenhuma refeição por terminada sem um belo ovo mole (ou dois, ou três). Se faz parte do grupo de pessoas que gosta de saber o que está a comer, saiba que os Ovos Moles de Aveiro têm indicação geográfica protegida (IGP) e são uma das mais conhecidas especialidades da doçaria tradicional portuguesa. Nascidos no seio da vida dominicana, franciscana e carmelita outrora existente em Aveiro, mantêm a tradição de serem feitos em tacho de cobre ao lume. O processo continua o mesmo: limpam-se as gemas de vestígios de claras e batem-se cuidadosamente, enquanto o açúcar e a água vão ao lume; depois, unem-se as gemas ao açúcar e recheiam-se as hóstias em formas marinhas; depois de uma noite de descanso, as formas são cobertas por uma calda de açúcar e deixam-se a secar.

Ovos Moles de Aveiro

Agora que comeu e repôs energias, aventure-se num percurso pelos Passadiços de Esgueira. Este percurso pode ser feito em qualquer hora do dia: de manhã, quando os pássaros despertam, de tarde com o sol a brilhar, ou ao fim do dia, acompanhados por um pôr-do-sol de cortar a respiração. O percurso começa no Antigo Cais de São Roque, no centro de Aveiro, e estende-se por 7,5 quilómetros (sobe para 15 se tiver de voltar para trás). Passe pela ria de Mataduços, pela Póvoa do Paço e pelo Rio Novo do Príncipe, sem nunca esquecer as estações de observação da fauna, que inclui Andorinhas-do-mar-anãs, pilritos-comuns e milhafres negros. E, claro, uma das características mais engraçadas destes passadiços: as frases e expressões aveirenses que vão pautando os vários pontos de descanso ao longo do percurso.