Os cerca de 15 minutos de viagem de Santar até Mangualde fazem-se sem pressas, entre manchas de pinhal, vinhedos e povoações dispersas. Já em Mangualde, respire fundo e prepare-se para subir a escadaria barroca que nos leva à Igreja de Nossa Senhora do Castelo. Construída no século XIX, estima-se que ocupe o lugar de um templo anterior, provavelmente devastado durante as Invasões Francesas. E não estranhe a referência ao “castelo”, uma vez que a lenda associada a este local aponta para a existência de uma fortificação antiga, certamente utilizada pelos mouros durante o período da ocupação. No topo, não deixe de admirar a incrível paisagem que, na região, só encontra paralelo na “varanda” do Caramulo, do lado oposto da planície beirã e que já conhece bem. Depois de tanto subir, reserve agora um momento de descanso e relaxe numa praia, no mínimo, improvável.

A Live Beach Mangualde é uma praia artificial de montanha que, além de recriar o ambiente típico da costa, é um espaço inclusivo, com acesso facilitado, com uma zona para os mais novos e um Jardim Sensorial. Aproveite e visite também as ruínas romanas da Citânia de Raposeira, que se encontram mesmo ao lado da praia. O nosso caminho prossegue, desta vez rumo a norte, pela N329, onde acabaremos por cruzar o Dão em direção a Penalva do Castelo, de onde é originária a Maçã de Bravo Esmolfe, uma suculenta e irresistível delícia.

Se o mundo dos vinhos lhe interessar, visite mais um local de referência, desta vez em Penalva do Castelo: a Casa da Ínsua que, para além de estar associado à tradição vitivinícola desde 1852, é também um solar barroco convertido em unidade hoteleira.

Continuamos estrada fora em direção a Sátão, para encontrar sigulares testemunhos de património arquitetónico religioso. É o caso a Igreja de Santo André, em Ferreira de Aves, de fundação românica atribuída a D. Henrique, por volta do séc. XII. Mas o que nos faz demorar mais um pouco é mesmo a oportunidade de provar os sabores locais: entre vinhos, bagas e frutos, não podem faltar os míscaros, um tipo de cogumelos apenas disponível nos meses de outono. Entre os muitos modos de confeção, o arroz de míscaros é o mais popular, mas não hesite em provar esta iguaria em açordas, estufados ou com ovos. E não se preocupe: se ficou fã desta especialidade saiba que terá novas oportunidades de a repetir, conhecer ou, até, de a levar para casa, já que não faltam certames, percursos e rotas inteiramente dedicados a esta maravilha gastronómica na região. É o caso de Aguiar da Beira, que aposta num percurso de orientação que o levará a descobrir diferentes espécies de cogumelos que se desenvolvem neste território onde não falta o típico míscaro, claro. Esta rota inclui-se num dos três percursos de orientação permanentes que lhe permitem conhecer a história e património cultural da vila, juntando-se aos percursos dos Dólmens de Carapito e de Aguiar da Beira.

É, no entanto, em Vila Nova de Paiva que o destino nos aguarda e, como prometido, deixamos duas sugestões perfeitas para a etapa final da nossa viagem. A primeira fará as delícias dos mais novos: o Kartódromo de Vila Nova de Paiva. Ponha o capacete, calce as luvas e prepare-se para todos os tipos de curvas e combinações.

A segunda sugestão é um autêntico oásis que Aquilino Ribeiro eternizou na sua obra “Terras do Demo”. Falamos do Parque Botânico Arbutus do Demo que tem mais de 80 mil metros quadrados de mata, floresta e cursos de água, com mais de mil espécies de plantas. E saiba que é ótimo para crianças, já que também pode contar com atividades vocacionadas para os pequenos, que vão da interpretação ambiental à astronomia.

Fica apenas a faltar uma importante peça neste mosaico de culturas, paisagens e sabores que é Viseu Dão Lafões. Rume um pouco mais a norte e despeça-se do território em Castro Daire, com o seu património milenar, a sua gastronomia serrana, a natureza intocada e as termas que lhe revigorarão o espírito. Visite ainda a Igreja da Ermida (também conhecida por Templo das Siglas), um Monumento Nacional fundado no século XII nas encostas do Paiva, e rume a uma paragem final na aldeia de montanha de Campo Benfeito, na Serra de Montemuro. É numa antiga escola à porta da aldeia que encontramos o local onde seis mulheres rodeadas de teares, linho e burel criam peças únicas e singulares, conhecidas e vendidas em todo o país. A Cooperativa Capuchinhas CRL dedica-se a manter viva esta arte tradicional, criando peças de vestuário originais, elegantes e sofisticadas. A assinar os desenhos exclusivos das peças temos ainda a mão da estilista Paula Caria. Vista a tradição exclusiva das Capuchinhas e sinta-se no cenário perfeito para uma última experiência: relembrar o melhor de uma região que só não se despede de si porque o acompanhará sempre, com o desejo de que regresse.