São Pedro do Sul – Paraíso Natural

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Reza a lenda que, na sequência da retirada do malfadado Cerco de Badajoz em 1169, D. Afonso Henriques sofreu um acidente, tendo fraturado uma perna. O primeiro rei de Portugal haveria de recuperar meses a fio numa antiga estância termal romana, em São Pedro do Sul. As ruínas da construção, conhecida desde então por Piscina de D. Afonso Henriques, são, por isso, o testemunho mais visível da estadia do rei no local que, mais tarde, viu nascer o maior complexo termal do país e um dos mais prestigiados da Europa: as Termas de S. Pedro do Sul.

É precisamente aqui que a nossa viagem se inicia, rodeados pela Serra da Arada, pelo Monte de S. Macário, pela Serra da Freita e pelo rio Vouga, lugares que conferem a S. Pedro do Sul o seu encanto natural. Siga pela N16 e acompanhe-nos pelas terras de Lafões até Vouzela.

O centro da vila que durante séculos beneficiou de uma posição estratégica no cruzamento de antigas vias romanas e estradas medievais é, hoje, repositório de uma herança histórica, natural e gastronómica de elevado interesse. Pare o carro, faça uma caminhada pelo centro histórico da Vila de Vouzela e descubra a diversidade do património edificado, da época romana ao barroco. Se a fome apertar, lembre-se que está na região certa para provar a reputada Vitela de Lafões e o Pastel de Vouzela, para além de outras especialidades menos conhecidas como o Folar de Vouzela ou a Sopa Seca de Alcofra.

O caminho leva-nos depois por bosques e florestas. Não se surpreenda, por isso, se for encontrando árvores centenárias monumentais, que fazem companhia aos inúmeros vestígios de ocupação pré-histórica da região. Se o tema o fascinar, recomendamos uma visita a Oliveira de Frades, onde o Dólmen de Antelas o deixará sem palavras, pelas incríveis pinturas a preto e vermelho no interior, num dos conjuntos mais bem conservados na Europa, com mais de cinco mil anos. Mas atenção: a visita ao interior deste importante monumento megalítico requer marcação prévia junto do Museu Municipal de Oliveira de Frades.

Serra do Caramulo

À medida que nos aproximamos da Serra do Caramulo vamos observando cenários ímpares, repletos de afloramentos graníticos, florestas e zonas de vegetação rasteira, cascatas e cursos de água cristalina. Abra a janela e inspire os bons ares da montanha. Contudo, e antes de subir aos pontos mais altos da serra, pare na vila do Caramulo para descobrir um tesouro escondido que justifica, por si só, qualquer visita.

E não, não estamos a exagerar. Na verdade, a vila do Caramulo, conhecida em tempos pela maior e mais moderna estância sanatorial da Península Ibérica, guarda muitas relíquias, graças à família Lacerda, que em muito contribuiu para a dinamização e o desenvolvimento da própria localidade. E é precisamente à Fundação Abel e João Lacerda que cabe a gestão do Museu do Caramulo, resultado da paixão de dois irmãos pela arte e pelo legado deixado pelo pai, Jerónimo de Lacerda. Hoje o museu é conhecido pelas suas impressionantes coleções de automóveis e de arte. No edifício principal, modernista, para além das cerca de três mil peças de brinquedos antigos, está a coleção de arte, que vai desde o Egipto e a China antigos ao século XXI, com obras de pintura, escultura, cerâmica, tapeçaria e artes gráficas.

Algumas destas obras são inclusivamente assinadas por nomes como Picasso, Dalí, Lurçat, Souza-Cardoso, Vieira da Silva ou Barata Feyo. Mas o Museu não se fica por aqui. No segundo edifício estão as peças de “arte em movimento”, reunindo marcas como Bugatti, Hispano-Suiza, Rolls-Royce, Mercedes-Benz, Alfa Romeo, Ferrari, Pegaso, Porsche e Lamborghini, e muitas outras… E, entre exemplares únicos de automóveis, motos, bicicletas, veículos da Segunda Guerra Mundial e os próprios carros presidenciais, encontra-se uma outra surpresa: o único sobrevivente do mítico desportivo de competição made in Portugal, o Alba. Saiba ainda que todos os anos este e outros clássicos saem à rua e entram em ação no Motorfestival, que recria o ambient de outros tempos na Rampa Histórica do Caramulo. É por aí mesmo que seguimos, para uma subida até ao cume da Serra.