Com mais de dois milénios de história, Viseu relaciona-se intimamente com a História do país. Tem como símbolo Viriato, líder dos lusitanos, que expulsou os invasores vindos de Roma, provando a valentia e a resiliência de um misterioso povo que vivia entre as planícies e as serranias da região. A Cava de Viriato é, por isso, de visita obrigatória, já que o desejo de reforçar a ligação de Viriato à cidade levou a que o herói lusitano aqui fosse eternizado e celebrado. Contudo, saiba que até hoje ainda não é certa nem a origem nem a função primordial da “cava”, uma imensa estrutura octogonal de 32 hectares, com cada talude do fosso a medir quatro metros de altura e 250 de comprimento. Mas seguimos para o próximo ponto desta etapa: o Centro Histórico de Viseu é um autêntico “museu a céu aberto” que não vai querer perder.

Deixamos o carro para trás e começamos pelo Adro da Sé, uma convidativa praça e um ótimo ponto de partida, de onde podemos avistar as próximas quatro paragens. A primeira, e mais evidente, é a própria Catedral, Monumento Nacional cuja singularidade resulta das sucessivas transformações desde o século XII, com intervenções visíveis dos séculos XVI, XVII e XVIII. Segue-se a Varanda ou Passeio dos Cónegos que liga o claustro superior da Catedral à antiga Torre de Menagem. Suba até lá e tire todas as fotografias que conseguir, já que esta permite um enquadramento perfeito. No lado oposto está o Paço dos Três Escalões, do séc. XVI, conhecido hoje por Museu Nacional Grão Vasco. Este museu – que deve o seu nome a Vasco Fernandes, um dos maiores pintores antigos de Portugal – reúne hoje, na coleção principal, um conjunto notável de pinturas de retábulo do artista, bem como de colaboradores e contemporâneos, provenientes da Catedral, de igrejas da região e de depósitos de outros museus.

O acervo inclui ainda objetos e suportes figurativos destinados originalmente a práticas litúrgicas, assim como peças de arqueologia, de pintura portuguesa, de faiança, de ourivesaria, de porcelana oriental e de mobiliário. Um tesouro com vários tesouros lá dentro, portanto. E se a arte e a arquitetura sacras lhe estimulam os sentidos, não deixe de visitar outro monumento, mesmo ali ao lado, a Igreja da Misericórdia.

Viseu

Continuamos, depois, pelas ruas antigas do Centro Histórico de Viseu e, entre praças, igrejas e capelas, são ainda visíveis os vestígios das antigas construções defensivas, tanto do período romano como medievais, assim como casas, portais e janelas góticas e manuelinas.

Viseu é também uma cidade onde se cria, se experimenta e se transforma. Parte do dinamismo da cidade vem de longe, pelo menos desde 1392, data do primeiro registo da ininterrupta Feira Franca, conhecida hoje por Feira de São Mateus. Mas não só: a agitação artística e cultural promovida pelos agentes e instituições da cidade tem contribuído de forma significativa para colocar Viseu no mapa e no coração de quem a visita. Aliás, sugerimos-lhe uma outra forma de conhecer a cidade: percorra o Roteiro de Street Art de Viseu que lhe dará a conhecer uma coleção de mais de 40 “postais” a céu aberto, que não deixarão ninguém indiferente, ou não contassem com a assinatura dos maiores artistas do país. Entre qualquer um dos percursos ou caminhos que decida seguir, não deixe de fazer algumas pausas nos muitos jardins e parques da cidade, para descanso ou mera contemplação.

Vinhos do Centro de Portugal

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E se falamos de uma cidade que surpreende os sentidos, não podemos esquecer o palato. Entre os pratos mais típicos, prove o Rancho à Moda de Viseu, o Arroz de Carqueja, o Arroz de Míscaros ou os já conhecidos Cabrito Assado e Vitela Assada à Lafões. Mas não se esqueça dos doces – como o Viriato, as Castanhas de Ovos de Viseu e os Pastéis de Feijão – nem de um dos mais saborosos tesouros de toda a região. Falamos do famoso Queijo Serra da Estrela DOP, o mais antigo queijo em terras nacionais, composto por três ingredientes apenas: leite cru das ovelhas autóctones da Serra da Estrela, flor de cardo e sal marinho. Esta simples mas deliciosa combinação é uma verdadeira tentação com origem (protegida) no Centro de Portugal, atravessando as regiões de Viseu, Dão, Lafões, de Coimbra e, claro, da Serra da Estrela. Não deixe por isso de provar e levar na mala alguns exemplares para partilhar com quem mais gosta.

O que é que falta para uma mesa recheada? O vinho. Está, por isso, na hora de lhe falarmos sobre o Vinho do Dão. Entre as serras que a resguardam da humidade marítima e dos rigores continentais, o Dão é a segunda região vitivinícola mais antiga do país, logo a seguir ao Douro. Mas ao contrário do que acontece no Douro, as suas vinhas encontram-se atrás de muros de pedra, pinhais, bosques, giestas, silvados e fachadas centenárias. Ora, foi este território singular, de solo granítico e com elevada amplitude térmica que justificou, em 1908, a delimitação geográfica conhecida hoje como Região Demarcada do Dão, tal a importância e a qualidade dos seus vinhos. Hoje recorre-se a uma diversidade de castas para a produção de tintos e brancos, numa região onde também os espumantes e os rosés são referência. Não deixe, por isso, de visitar o Solar do Vinho do Dão, de onde poderá partir à descoberta dos cinco itinerários da Rota dos Vinhos, em cinco sub-regiões distintas. E no caminho até à próxima etapa, passe por Santar, em Nelas, para conhecer uma das mais emblemáticas casas vitivinícolas do Dão, na Casa de Santar. Alie tudo isto ao património histórico do antigo paço, numa das mesas do restaurante integrado no moderno e acolhedor complexo de enoturismo.