A zona serrana conserva ainda hoje muitos vestígios da presença judaica na Península Ibérica, possuindo também, em Belmonte, a última comunidade Cripto-Judaica nesta parte da Europa.
Uma comunidade que resistiu à perseguição movida pela Inquisição, preservando os seus ritos, orações e relações sociais. Esta comunidade foi reconhecida oficialmente em 1989 e em 1996 foi inaugurada a sinagoga “Beit Eliahu” (Filho de Elias) numa das ruas da antiga judiaria. Para além de um cemitério judaico, Belmonte tem, desde 2005, o único Museu Judaico em Portugal.
A Rota das Antigas Judiarias da Serra da Estrela, porém, é bastante mais vasta, abrangendo outros locais como Celorico da Beira, Covilhã, Fundão, Gouveia, Guarda, Linhares da Beira, Manteigas, Penamacor, Pinhel e Trancoso, que ainda hoje guardam vestígios da presença judaica em aspetos como a arquitetura, a toponímia e o comércio. Alguns destes locais mantêm ainda a memória das judiarias medievais, no seu património.
Para perceber a importância dos Judeus na História de Portugal, é preciso recuar ao Império Romano, altura em que os Sefarditas (palavra que deriva de Sefarad, a designação hebraica de Península Ibérica) se instalaram neste território, desenvolvendo, durante toda a Idade Média, atividades manuais, financeiras e culturais que lhes granjearam prestígio junto dos reis da Primeira Dinastia.
Mesmo durante os períodos de maior tolerância religiosa, os judeus habitavam em áreas específicas das localidades, designadas como judiarias, locais que ainda hoje existem em várias vilas e cidades da região serrana. As soleiras, portas e janelas eram assinaladas para que todos soubessem que naquela casa habitava um judeu. Como muitos tinham profissões ligadas ao comércio ou ao têxtil, a presença judaica acabou por ser determinante para o crescimento da indústria de lanifícios da Serra da Estrela.
Num passado mais recente, em plena II Guerra Mundial, a região serrana voltou a ser um porto seguro para os judeus perseguidos, já que muitos dos que receberam vistos passados pelo cônsul Aristides Sousa Mendes chegaram a Portugal através da fronteira de Vilar Formoso.