Era uma vez, há muitos, muitos anos atrás, uma Vila das Rainhas. Foi em 1210 que começou a ser, romanticamente recebida como dote por muitas rainhas de Portugal: D. Urraca de Castela, Rainha Santa Isabel, D. Filipa de Lencastre, D. Leonor de Avis…e para sempre se tornou Óbidos das Rainhas, Óbidos das donzelas, Óbidos das mulheres, pois foram elas que a tornaram única, misteriosa e deslumbrante.

Faça parte deste roteiro de encantar. Parta à descoberta da romântica Vila de Óbidos.

Óbidos deve o seu nome ao latim oppidum que significa cidade fortificada. De origem romana, a vila foi posteriormente ocupada por muçulmanos, tendo sido conquistada por D. Afonso Henriques, em 1148.

Ao aproximar-nos da vila medieval de Óbidos, a sua imponência deslumbra-nos.

O seu cerco amuralhado, tão bem preservado, no alto da colina, transporta-nos imediatamente para contos de fadas, de reis e rainhas, príncipes e princesas. Deixe-se enamorar pelas histórias aqui contadas, reconheça os mais importantes monumentos a visitar e deixe-se encantar pela vila mais literária de Portugal.

A aventura começa muito antes, logo que avistamos Óbidos, mas agora, estamos à Porta da Vila. A entrada principal é memorável e dupla (tão habitual nos castelos portugueses). Aqui podemos admirar o oratório com uma varanda coberta de um painel de azulejos do século XVIII representando figurativamente a Paixão de Cristo. É aqui que se encontra a inscrição dedicada à padroeira de Óbidos, Nossa Senhora da Piedade, mandada colocar pelo Rei D. João IV: “A Virgem Nossa Senhora foi concebida sem pecado original”. O teto é pintado e representa uma Coroa de Espinhos.

Óbidos - Porta da Vila
Porta da Vila – Óbidos

Ao passarmos a Porta da Vila, entramos em ambiente medieval e de imediato nos dirigimos à rua Direita. Estreita, ladeada pelas suas casas caiadas de branco e listas às cores. Percorrendo a rua calçada, ladeada por lojinhas de comércio tradicional, com as suas portas abertas, permite-nos ao caminhar, apreciar os detalhes de cada uma delas. Floridas, charmosas, com cor e muita estórias da história.

A poucos metros chegamos ao Largo da Praça ou Largo de Santa Maria, um dos pontos mais importantes da vila medieval de Óbidos.

À direita deparamo-nos com o Museu Municipal, conhecido pelo espólio da pintora Josefa d’Óbidos, sevilhana de nascimento que se instalou e morreu na vila (sepultada na Igreja de S. Pedro que mais à frente descrevemos), desafiando uma sociedade pouco tolerante para com o talento artístico de uma mulher.

O Pelourinho de Óbidos, estrutura em cantaria de granito, destaca-se também aqui na Rua Direita, em frente ao Largo de Santa Maria. Representa o poder e a independência municipal, mas também é marco de diversas punições públicas que ali ocorreram durante a Idade Média. De um lado, ostenta o escudo de armas portuguesas, do outro a representação de uma rede de pesca, em memória do infante D. Afonso, filho de D. Leonor Teles e D. Fernando, que morreu num acidente, tendo sido encontrado pelas redes de pescadores da região. Remete-se a sua construção para a época de D. João II.

Óbidos Vila das Rainhas
Ruelas de Óbidos

É aqui que se encontra a Igreja de Santa Maria onde se casaram Afonso V e sua prima Isabel aos 10 e 8 anos, a 15 de agosto de 1444. A igreja matriz situa-se no centro da praça com o mesmo nome e é o principal templo religioso da vila. De tempo medieval, foi renovado no século XVII com belíssimos exemplares de azulejos setecentistas e telas da pintora Josefa d´Óbidos, do século XVIII.

O Telheiro, onde se localizara em tempos o antigo Mercado Municipal, é o local ideal para fazer cumprir a tradição: beber uma ginjinha de Óbidos em copo de chocolate negro e provar um doce tradicional vendido numa das lojinhas que se avistam do largo.

Energias recuperadas. Seguimos caminho…

Os edifícios que vamos encontrando preservam a identidade de Óbidos, considerada uma das vilas medievais melhor conservadas do Mundo. As diferentes cores das casas na Vila de Óbidos são o amarelo, azul, vermelho e cinzento. A cor amarela significava que os agricultores lá viviam, o azul era para os pescadores, o vermelho para a burguesia e a cor cinza para os edifícios religiosos.

Por tradição, as casas eram caiadas de branco originalmente por três razões: afastar o mau-olhado de vizinhos invejosos, marcar a divisão da propriedade (barras verticais) e impedir que se visse a sujidade dos salpicos de lama nas paredes (barras horizontais junto ao chão).

Bem cuidado, o casario apresenta telhados de telha mourisca e janelas ladeadas de vasos floridos suspensos que fazem as delicias dos visitantes.

Óbidos e casas caiadas
Óbidos e suas casas


Subindo rua acima, à esquerda encontramos a Igreja de Santiago, atual livraria com o mesmo nome, que é um dos locais obrigatórios de paragem. O edifício é de 1186 mas foi reconstruído após o terramoto de 1755 e é uma preciosidade para quem visita o espaço, não apenas pela sua antiguidade, mas pelo espaço de cultura e lazer que ali foram criados.

A este ponto já se avista uma das sete maravilhas de Portugal: o Castelo de Óbidos.

No alto da vila, deixe-se inspirar com os vestígios de outras épocas que daqui se conseguem avistar. Este grande marco da Reconquista Cristã foi sofrendo várias alterações ao longo dos tempos, e foi aqui que se instalou a primeira “pousada do estado em edifício histórico”, onde poderá usufruir de uma noite digna de um Rei.

Muralhas de Óbidos

Após subir ao castelo, poderá voltar ao centro da vila percorrendo as centenárias muralhas que rodeiam a cidadela. Serão cerca de 2 quilómetros com vistas fantásticas sobre o castelo e arredores.

Dali se avista o redondo Santuário do Senhor Jesus da Pedra (século XVIII), que deve o seu nome à lenda de um lavrador que diz ter sido chamado pela cruz de pedra deste templo, cuja devoção acabou com a seca da região. O seu exterior cilíndrico contrasta com o interior hexagonal, onde se destaca a representação do Cristo crucificado. Recebeu a veneração dos reis portugueses.

Daqui poderá ainda avistar claramente o Aqueduto da Usseira, mandado contruir no século XVI por D. Catarina, constituindo o primeiro sistema de abastecimento de água local. Desta forma, a água terá sido transportada por 3 quilómetros de arcos atravessando vinhas e colheitas até à Fonte da Vila, localizada em frente à Igreja de Santa Maria.

Aqueduto da Usseira - Óbidos
Aqueduto da Usseira – Óbidos

Ao descer novamente para a cidadela, encontramos a Igreja de São Pedro. Reconstruída no final do século XVI, constitui o mais imponente edifício da vila. No interior destacam-se o retábulo em talha dourada setecentista e o túmulo da pintora Josefa d’Óbidos.

Aproveite e almoce na vila. Há muitos cafés e restaurantes, com excelentes espaços de esplanada. Muitas são casas familiares que servem a caldeirada com o peixe que chega da Lagoa de Óbidos, ali ao lado. Outras oferecem opções mais regionais como cabrito no forno e coelho guisado, ou se preferir um belo prato de marisco.

A região Oeste pertence à Região de Vinhos de Lisboa, pelo que pode sempre acompanhar o seu prato com um excelente vinho de uma das maiores regiões vitivinícolas do país.

Ao seu redor, a concentração de lojinhas de artesanato não lhe ficarão indiferentes. Artigos tradicionais com cerâmicas, rendas, bordados e trabalhos em estanho. Os bordados e tapeçaria de Óbidos são uma arte criada por uma obidense. Arabescos, pássaros, o castelo e a palavra Óbidos, bordados em tons de azul, rosa, salmão, verde, amarelo e castanho, compõem os bordados de Óbidos. Certifique-se que compra um produto de qualidade ao confirmar o selo de autenticidade que lhe garante a sua genuinidade.

Artesanato

Tradição da vila de Óbidos é a Oficina das Artes, também conhecida como Oficina de Barro, que funciona há mais de 20 anos e dá ênfase à Verguinha de Óbidos, uma arte que esteve em vias de extinção, um artesanato de origem italiana que se foi perdendo no tempo, até que Bordalo Pinheiro, numa das suas viagens o trouxe de volta a Portugal.

A aventura é ainda um dos pontos fortes do concelho de Óbidos. A Lagoa de Óbidos está integrada na maior estação náutica do país, a do Oeste, e oferece para além de belos passeios e percursos pedestres nas suas margens, um encontro com a aventura. Aqui pode praticar percursos de BTT, windsurf e canoagem aliados à escalada e ao trail. Qualidade ambiental é a peça chave, não fosse este o maior sistema lagunar existente na costa portuguesa.

Qualquer altura do ano é boa para visitarmos Óbidos, a Vila mais literária do país. Aproveite para visitar todos os locais que integram este projeto de Cidade Criativa da Literatura pela Unesco, que fazem desta pequena vila um Pólo de cultura, de literatura e de escrita.

Óbidos Vila Literária
Óbidos – Cidade Criativa da Literatura pela Unesco


As suas ruas amuralhadas e o seu castelo medieval são palco de eventos internacionais como o Festival Internacional de Chocolate e o Mercado Medieval. A Semana Santa, o Festival Literário ou a Óbidos Vila Natal são ainda certames que atraem milhares de visitantes de todo o mundo.

Saiba um pouco mais sobre estes eventos anuais que não quererá perder:

// Folio – Festival Literário Internacional de Óbidos
Promove um conjunto de atividades culturais onde as palavras são soberanas. Decorre normalmente em outubro, com uma programação diversificada. Estimula a aproximação entre autores e leitores e é palco de lançamento de livros, debates, reflexões, mesas redondas, entrevistas e muitas conversas.

// Festival do Chocolate
Principal ponto de encontro dos apreciadores de chocolate em Portugal, que ocorre habitualmente em março, numa experiência envolvente que desperta os sentidos num Festival repleto de sabor, cor e saber.

// SIPO – Semana Internacional de Piano
O Festival de Piano é um verdadeiro marco no panorama musical internacional onde participam artistas de reputação excecional de todo o mundo.

// Mercado Medieval
O Mercado Medieval de Óbidos que decorre habitualmente em julho, permite-nos regressar à Idade Média. Dê largas à imaginação e viva verdadeiros dias de folia entre armas, cavalos, bobos, bailarinos, jograis e muito mais. Descubra os aromas de outros tempos e delicie-se com os manjares da época, regados pelos melhores néctares da região.

// Óbidos Vila Natal
Com brilhos, luzes, enfeites e outras quimeras, recria-se o misticismo e o espírito inerentes à época natalícia, na Óbidos Vila Natal. Solte a criança que há em si e dê largas à imaginação. Viva as personagens e enredos, fantasias e sonhos, sem esquecer o lendário Pai Natal.

Qual a melhor altura para visitar Óbidos? Todo o ano!

Artigo em constante atualização. Envie os seus contributos ou sugestões para comunicacao@turismodocentro.pt